Serviços secretos sabiam da radicalização do atirador de Copenhaga

Polícia faz mais uma detenção no bairro onde abateu o suspeito atacante e mantém alerta em todo o país.

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A primeira-ministra numa manifestação de homenagem às vítimas que juntou 30 mil pessoas Linda Kastrup/Reuters

Num comunicado, a agência PET disse ter recebido em Setembro um relatório das autoridades penitenciárias onde se evocava o “risco de radicalização” do suspeito – as autoridades ainda não confirmaram que o autor das duas mortes, abatido domingo à tarde, seja Omar el-Hussein, dinamarquês filho de pais palestinianos, mas vizinhos e familiares já disseram aos media locais que se trata mesmo do jovem de 22 anos. “Os elementos do relatório não levavam a crer que ele planeasse um ataque”, dizem ainda os serviços secretos.

De acordo com o diário dinamarquês Berlingske, Hussein começou a falar da sua vontade de viajar para a Síria e combater ao lado de jihadistas quando estava preso, o que levou os serviços prisionais a incluir o seu nome numa lista de 39 pessoas “radicalizadas nas prisões” do país.

O debate no centro cultural atacado no sábado era também uma homenagem às vítimas do jornal satírico francês Charlie Hebdo, atacado a 7 de Janeiro. A polícia dinamarquesa já disse estar a trabalhar “a partir da hipótese de que esta pessoa tenha sido inspirada pelos acontecimentos no Charlie Hebdo, em Paris”. Dois dos três autores desse ataque e do que se seguiu, a uma mercearia judaica, num total de 17 mortos, também se radicalizaram enquanto estiveram presos: um por ter tentado viajar para o Iraque para ali combater a ocupação norte-americana; outro por roubo.

Hussein foi preso e condenado por ter esfaqueado um outro jovem numa estação de metro de Copenhaga e sabe-se que pertenceu a um gang que actuava em Norrebro, um bairro popular dos subúrbios da cidade, onde foi morto depois de disparar contra agentes. Foi neste bairro que a polícia fez a última detenção, depois de ter acusado dois homens detidos no domingo de auxiliar o atirador.

Um sociólogo que conheceu Hussein em 2008 descreve-o como “um jovem fracassado do gueto e muito, muito zangado com a sociedade dinamarquesa”. Aydin Soei contou ao jornal The New York Times como conheceu vários adolescentes membros de gans na investigação para o seu livro Jovens Zangados: do grupo de miúdos com pouca escolaridade, laços muito vagos ao islão e um sentimento generalizado de exclusão, Hussein era “um dos mais interessados e empenhados” nas conversas sobre os seus comportamentos. “Quando queria, era bom na escola, mas tinha um temperamento terrível que não conseguia controlar”, recorda Aydin Soei.

Legislativas em Setembro

A Dinamarca é um dos países europeus de onde mais jovens têm saído para ir combater na Síria (em proporção à população, é o segundo, a seguir à Bélgica). Estes ataques deverão levar à discussão dos programas de reintegração que o país aprovara para quem regresse voluntariamente ao país e para quem esteja preso por terrorismo ou crimes ligados ao extremismo.

Com legislativas marcadas para Setembro, os analistas antecipam vários meses de debate sobre imigração e integração – um tema que a extrema-direita colocou na agenda há 15 anos. O actual chefe da oposição, Lars Rasmussen, do Venstre (Partido Liberal da Dinamarca, conservador), governou até 2011 com o apoio do Partido Popular Dinamarquês, uma formação xenófoba.

A linguagem do PPD foi contagiando o Venstre e até os sociais-democratas, no Governo, da primeira-ministra Helle Thorning-Schmidt, que no fim do ano aprovaram normas para endurecer o controlo nas fronteiras e declararam que a integração não funcionou no país. Antes, o porta-voz dos conservadores defendera que são os imigrantes não ocidentais que geram problemas: “Não é preciso estabelecer os mesmos requisitos para toda a gente, em regra há uma grande diferença entre a capacidade e vontade de integração de um americano cristão ou de um sueco, comparadas com as de muçulmano somali ou paquistanês”.
 

   





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