Eco e as redes sociais
As redes sociais abriram a caixa de Pandora? Sim. Mas eu vi o Avatar em 3D e até gostei.
A minha admiração pelo pensador Umberto Eco é enorme. Há textos dele escritos há 50 anos que são referência na minha área de trabalho. Escreveu ensaios fundamentais sobre retórica, ideologia, literatura, publicidade, James Bond, James Joyce, o mito do Super-Homem.
Agora decidiu imitar Miguel Sousa Tavares e atacar as redes sociais. Diz que deram tempo de antena a imbecis. E já há gente a dar-lhe razão: li agora um post dum a dizer que ia queimar os seus livros, tal a ofensa foi pessoal.
É verdade que as redes sociais deram eco à voz de muitos imbecis. O mesmo pode ser dito do voto. Ou do turismo, quando se democratizou. Há 30 anos um autarca algarvio queria proibir os "turistas de pé descalço" de irem ao Algarve em época alta. Era um imbecil, só que de um tipo raro: nem todos os imbecis são autarcas.
Há muitos imbecis a votarem, a respirarem, a comerem gelados de framboesa. Qual é a alternativa? Proibi-los de votar, respirar, comer gelados (e logo de framboesa)? I don't think so.
Obviamente Umberto Eco tem só meia razão. Ou seja, não tem razão. Mas, ao lançar aquela boca, atiçou os imbecis, que enfiaram a carapuça. Abençoado Eco, que mesmo quando não tem razão (e já está velhote) agita as águas.
Porque ele sabe que a alternativa – silenciar quem não é "qualificado" – é que é o verdadeiro horror. Até porque os imbecis com tempo de antena nos media tradicionais são como o autarca algarvio: em menor quantidade mas de superior qualidade na sua tontaria.
As redes sociais abriram a caixa de Pandora? Sim. Mas eu vi o Avatar em 3D e até gostei. Imbecis do Facebook, uni-vos! E continuai (continuemos) a ler Eco, que mesmo quando diz dubiedades é um Senhor!
Docente universitário FCSH-UNL, artigo adaptado de um post no Facebook