A Humberto Pedrosa só falta a TAP para ter um império nos transportes
O dono da Barraqueiro juntou-se à Azul para concorrer à privatização da companhia. Se ganhar, ficará perto de fazer o pleno no sector.
Se entrar na TAP, não irá encontrar uma empresa muito diferente daquelas em que se orgulha de ter apostado no passado, já que o grupo a que a companhia de aviação pertence vive um momento financeiro muito difícil, depois de ter terminado 2014 com prejuízos de 85,1 milhões de euros, capitais próprios negativos em mais de 500 milhões e uma dívida que ultrapassa os 1000 milhões. Mas não será um desafio que terá de enfrentar sozinho, já que o consórcio que integra é liderado por David Neeleman, dono da brasileira Azul e da low cost norte-americana Jetblue.
Mas ainda está por explicar o que levou Humberto Pedrosa a juntar-se a este empresário norte-americano nascido no Brasil. Neeleman precisa dele, já que as regras limitam a entrada de investidores não-europeus em companhias de aviação do espaço comunitário (embora esta aliança não resolva totalmente o problema). E o dono da Barraqueiro, que inicialmente surgiu ao lado de outro candidato – o português Miguel Pais do Amaral – poderá ter retirado uma vantagem destas limitações, embora se desconheça que participação vai ter no consórcio.
Muito discreto, o dono da Barraqueiro tem recusado falar sobre a decisão. E o dono da Azul também se tem fechado em copas sobre a identidade de outros aliados que possa ter reunido, apesar de ser natural que o agrupamento que lidera conte com mais investidores. A proposta que fizeram pela TAP irá concorrer com outras duas: além da oferta de Pais do Amaral, a companhia está ainda a ser disputada por Germán Efromovich, que regressou depois de a primeira tentativa de compra ter fracassado em 2012, com a rejeição da sua proposta pelo Governo.
No próximo mês, quando for escolhido o vencedor desta privatização, saber-se-á se Humberto Pedrosa passa ou não a ser accionista da empresa. Será um passo de gigante, num sector que nunca o testou, mas o investimento dará continuidade a um verdadeiro império nos transportes, que começou a construir há quase 50 anos e que hoje se move nas rodas do grupo Barraqueiro, que controla em 68,5% (partilhando o capital com a britânica Arriva).
Nascido na Asseiceira Pequena, em Mafra, em Outubro de 1947, Humberto Pedrosa pegou pela primeira vez nos lemes de uma empresa aos 20 anos, quando o pai lhe confiou a Joaquim Jerónimo, que, com 11 autocarros, fazia o transporte de passageiros no eixo Torres Vedras-Lisboa. É esta a origem do grupo Barraqueiro, cujo nome vem da alcunha dos seus fundadores, que durante uma fase da sua vida foram feirantes na Malveira.
O empresário começou a alargar o leque de investimentos pouco tempo depois, comprando empresas do sector dos transportes e do turismo. Escapou às nacionalizações por detalhes técnicos, já que as regras impunham que fossem abrangidas as dez maiores companhias com 100 autocarros e, na altura, era o 11º e tinha 80 viaturas. Foi nos anos 90 que deu o grande salto, com as aquisições que conseguiu fazer durante o processo de reprivatização da antiga Rodoviária Nacional. Ainda no final dessa década, atalhou caminho pela ferrovia, quando ganhou a concessão da Travessia Ferroviária do Tejo, explorada pela Fertagus, que integra o seu grupo. O investimento no metropolitano chegaria na viragem do milénio, com a construção e exploração do Metro Sul do Tejo, consolidando-se em 2010 com o Metro do Porto. A expansão internacional veio em 2011, com a entrada no Brasil, onde tem uma parceria no transporte rodoviário de passageiros em Manaus, e em Angola, com uma empresa de transporte de combustíveis em Luanda.
No ano passado, o grupo – que agrega 30 empresas, emprega 5400 pessoas e tem uma frota de 3200 veículos – gerou uma facturação de 370 milhões de euros e lucros de 2,3 milhões. No conselho de administração tem assento um dos filhos de Humberto Pedrosa, David.