E-Primatur e Book Builders: duas faces de um projecto editorial inovador
Novo projecto editorial vai recorrer ao CrowdPublishing para ajudar a financiar edições e para avaliar o interesse do mercado em determinadas obras.
O núcleo duro do projecto é constituído por Hugo Xavier, co-fundador da Cavalo de Ferro, e que passou ainda pela Ulisseia, do grupo Babel, Pedro Bernardo, ligado às Edições 70, do Grupo Almedina, e João Reis, que lançou a Eucleia e tem a mais-valia de dominar várias línguas escandinavas.
A ideia partiu de Hugo Xavier, movido pelo desejo de atenuar as numerosas e graves lacunas do catálogo de livros disponíveis em Portugal. “Faltam-nos muitas obras essenciais da literatura internacional”, diz Hugo Xavier ao PÚBLICO, ilustrando com um dos primeiros livros que pretende editar, a partir de Setembro, na E-Primatur: O Salão Vermelho, de August Strindberg. “É o primeiro romance sueco moderno; como é que isto nunca foi traduzido para português?”, interroga-se o editor.
A resposta habitual é que não há mercado, e um dos propósitos deste projecto é justamente averiguar se de facto há ou não mercado para determinadas obras. É aí que entra o recurso ao CrowdPublishing, que serve ao mesmo tempo para ajudar a financiar a edição de livros e para testar o interesse que cada um deles desperta entre os leitores portugueses.
Um dos vectores do projecto é a criação de uma plataforma digital própria dedicada ao CrowdPublishing, que já tem endereço (http://e-primatur.com), embora esteja ainda em desenvolvimento. É aqui que os livros serão apresentados, com cerca de seis meses de antecedência, para que os eventuais interessados em ajudar a viabilizar a sua edição possam fazer uma doação, que corresponderá sensivelmente a 2/3 do preço que o livro irá custar nas livrarias, e que terá como contrapartida o envio de um exemplar gratuito quando a obra for impressa.
Hugo Xavier precisa, no entanto, que a E-Primatur não estará dependente do CrowdPublishing, que servirá antes de mais para sondar o mercado, mostrando a viabilidade comercial de uma obra e dado indicações preciosas para se decidir a respectiva tiragem. A E-Primatur pode, pois, optar por interromper um processo de CrowdPublishing antes de o livro em causa ter alcançado o limite de doações, avançando de imediato com a sua publicação.
O catálogo da E-Primatur irá centrar-se, diz ainda Hugo Xavier, “em clássicos, incluindo clássicos modernos, que nunca foram publicados em Portugal ou estão há muito esgotados”. Além do romance de Strindberg, a editora irá publicar brevemente Voss, do Nobel da Literatura Patrick White, Os Mutilados, de Hubert Ingels, e O Caso do Camarada Tulaev, de Victor Serge. Montesquieu, Defoe, Dickens, Twain, Selma Lagerlöf ou Joseph Roth são outros autores que a E-Imprimatur poderá vir a publicar em breve.
Mas nem tudo será literatura de ficção. Um dos livros que Hugo Xavier pretende editar é de Dirk Laubner, um fotógrafo alemão especializado em fotografia aérea de baixa altitude que “esteve em Portugal há cinco anos e fotografou o país de norte a sul”.
Se a E-Primatur procurará e proporá os seus próprios livros, ainda que pretenda criar à sua volta uma comunidade de leitores activa e que contribua com sugestões de obras a editar, o outro braço do projecto, a Book Builder, destina-se a receber propostas: o autor que quer publicar um livro, o potencial editor que quer criar uma pequena editora mas não dispõe de meios financeiros e técnicos, ou a editora já instalada no mercado que deseje, por exemplo, testar a viabilidade de uma nova colecção.
A Book Builder, avisa o editor, “não aceitará tudo”, mas desde que o livro tenha alguma qualidade estará disponível para o apoiar. Se a obra não tiver mercado mas tiver qualidade, fornece ao eventual interessado serviços de paginação, ilustração, design, revisão, tradução, digitalização ou conversão para formatos de livro digital, entre outros.
Num segundo caso, se a obra assim o justificar, a Book Builders pode também ajudar o respectivo autor a editar o seu livro, assegurando-lhe armazenagem, marketing, organização de lançamentos e outros serviços, incluindo distribuição, e auxiliando ainda a financiar a obra, colocando-a na sua plataforma de CrowdPublishing.
Finalmente, se um livro mostra ter mercado, mas não se enquandra na lógica da E-Primatur, a Book Builders pode em alguns casos assumir ela própria a edição, explica Hugo Xavier, funcionando excepcionalmente como chancela.