A conservadora Irlanda vai referendar o casamento gay
Sondagem do Irish Times diz que 71% dos cidadãos são a favor. Igreja Católica joga com o factor "filhos" para promover o "não".
Kenny está confiante porque, explicou, a sociedade irlandesa mudou e os cidadãos estão mobilizados. "O facto de este referendo se estar a realizar é um sinal do progresso que se viveu no nosso país nas últimas décadas. Indica também uma mudança de atitude em relação às pessoas lésbicas e gay", disse o primeiro-ministro.
Uma sondagem encomendada pelo jornal Irish Times diz que 71% dos cidadãos irlandeses são a favor da mudança da lei, resta saber quantos irão votar. Nos últimos dias, o número de cidadãos inscritos para votar neste referendo aumentou.
Kenny, que é primeiro-ministro de um país onde a Igreja Católica ainda tem um grande peso (o aborto é ilegal), explicou que, à medida que foi conhecendo histórias de casais do mesmo sexo, foi-se convencendo que legalizar o seu casamento é o mais certo. "Queremos alargar a dois homens ou a duas mulheres que se amam o direito de fazerem o mesmo contrato que eu fiz quando me casei", disse Kenny.
A campanha do "sim" contou com o apoio da Igreja da Irlanda (anglicana), cujos arcebispos apelaram ao voto a favor. John Neill, que foi arcebispo de Dublin entre 2002 e 2011, disse que a sua igreja "reconhece actualmente que há vários géneros de união" e que "todas eles devem ter a protecção do estatuto do casamento". "A percepção que a Igreja [anglicana] tem do casamento evoluiu, colocando hoje o companheirismo acima da procriação", disse Neill.
A campanha do "não" mobilizou a hierarquia católica e usou sobretudo o argumento dos filhos para defender a sua posição — a seguir ao casamento, disseram as organizações pró-não e a Igreja, surgirá a adopção por parte de casais do mesmo sexo e o recurso às barrigas de aluguer.
Num debate no início do mês, o primaz católico de toda a Irlanda, arcebispo Eamon Martin, pronunciou-se contra a "neutralidade" do casamento, ou seja, que este passe a ser definido por lei como a união entre duas pessoas e não como a união entre um homem e uma mulher, e esgrimiu o argumento das crianças. "O que se passará a ensinar nas escolas às crianças sobre o casamento?", disse, perguntando se terá também que se explicar às crianças o que são "actos homossexuais".
"A estratégia adoptada pelo campo do ‘não’ é clara: tenta criar confusão na mentes das pessoas ao trazer para a discussão temas emocionais que nada têm a ver com o debate", respondeu a ministra da Justiça, Frances Fitzgerald.