Cameron? Miliband? Ukip? Clegg? Europa?
As legislativas de hoje são eleições internas, mas também são uma espécie de primárias sobre a Europa.
São mais de 45 milhões os eleitores que vão participar na votação de hoje no Reino Unido. Os temas que nesta altura mais vão pesar na hora de votar são a economia, o financiamento do sistema nacional de saúde, a governabilidade e a coesão nacional, tudo isto tendo como pano de fundo a questão da imigração e da pertença à União Europeia. Como em todas as campanhas não faltaram os casos polémicos – como o do candidato do Ukip que foi expulso depois de dizer que iria “dar um tiro” no rival conservador de origem asiática caso este algum dia chegasse a primeiro-ministro. Ou as pequenas gaffes como a de Cameron, que se esqueceu do nome da sua equipa de futebol favorita ou a do líder dos trabalhistas, que agora é chamado de ‘Moisés’ Miliband por ter gravado as suas promessas eleitorais numa laje de pedra.
Os temas que dominaram a campanha são transversais a quase todos os partidos; basta seguir os ‘mandamentos” de Miliband, e por esta ordem: a economia, em que os conservadores se orgulham de ter criado dois milhões de postos de trabalho e reduzido o défice para metade; a desigualdade social, que está a aumentar e que joga a favor do Labour; a sustentabilidade do sistema de saúde, que foi trazida para a campanha pelos trabalhistas; a bandeira do controlo da imigração, que David Cameron disputa com Nigel Farage de uma forma quase demagógica; e, além da questão da coesão nacional, introduzida pelo despontar do Partido Nacional Escocês de Nicola Sturgeon, a incontornável temática do referendo sobre a permanência na União Europeia, uma questão que está intimamente ligada à da imigração.
Curiosamente, os nacionalistas do SNP, os grandes responsáveis pelo referendo da separação da Escócia do Reino Unido, são os únicos com uma posição categórica em relação ao referendo sobre a permanência na União. Não o querem e ponto final. Os tories, que prometeram o referendo para 2017, querem continuar mas dentro de uma “União reformada”, leia-se com mais poderes para Cameron e com uma maior autonomia para colocar entraves à livre circulação de pessoas (incluindo imigração europeia), pretensão que muitos líderes como o polaco já vieram dizer que vetariam. Para os radicais do Ukip o referendo fazia-se já amanhã e mesmo os trabalhistas, de tradição europeísta, admitem uma consulta popular se houver transferência adicional de soberania de Londres para Bruxelas, o que não é crível que venha a acontecer. Por isso é que as eleições de hoje também são vistas como uma espécie de primárias do compromisso dos britânicos para com o projecto europeu.
Mas até lá ainda há que transpor uma difícil arquitectura eleitoral e de coligações para que o empate técnico dos conservadores e trabalhistas retratado pelas sondagens não resulte num governo que não consiga governar. Nick Clegg, dos liberais-democratas, já disse que se algum deles ousar governar sem uma maioria em Westminster haverá novamente eleições em Dezembro. São ainda muitos pontos de interrogação, sendo que talvez o que mais nos interessa é saber se os resultados de amanhã vão fazer do Reino Unido uma espécie de jangada de pedra em relação ao projecto europeu.