Ryley Walker, sob a influência dos mestres
Primrose Green é um disco primorosamente interpretado, delícia sónica para os nossos ouvidos.
Ryley Walker, nascido no Illinois e migrado para Chicago, onde se integrou na fértil e ecléctica cena musical local, caldo onde convivem e colaboram frutuosamente músicos do jazz e da folk, experimentalistas noise e agentes do hard-core, tem os olhos postos no outro lado do Atlântico. É a folk britânica que o inspira e que lhe deu uma linguagem. Ou melhor, aquilo que o mergulho na folk britânica fez florescer na década de 1960 e 1970 pelas mãos de John Martyn ou do Van Morrison deAstral Weeks. Guitarrista de talento, exímio no fingerpicking, tomou ao segundo álbum aqueles modelos como seus. O resultado é este estranho disco intituladoPrimrose Green. Estranho por suscitar um entusiasmo paredes-meias com a estupefacção.
A dinâmica criada pela bateria e pelo contrabaixo criam uma turbulência que encontra contraponto na voz, forte e colocada, que parece seguir palavras debitadas em fluxo de consciência. A guitarra eléctrica pontua o voltejar da acústica, enquanto o vibrafone surge ocasionalmente para que se liberte um brilho onírico sobre as melodias.
Ryley Walker é, digamos, um conservador progressista. É difícil não nos deixarmos conquistar pela fluidez e naturalidade com esta música brota dos músicos reunidos. É impossível não reconhecer que Ryley Walker se mostra capaz de fazer de memórias folk um palco de invenção. Mas é também difícil passar por Same minds ou Sweet satisfaction sem a sensação de que, a qualquer momento, Walker começará a cantar a letra de Solid Air, uma das canções mais emblemáticos de John Martyn.
Por outro lado, a força telúrica de Griffiths Bucks blues, de uma primeva beleza folk criada com guitarra e violino, ou a mancha eléctrica que corrói o final de Love can be cruel, enquanto a guitarra e o vibrafone se entrelaçam em loop, são prova de vida e inspiração para além dos modelos a que Ryley Walker se atém tão convicta e fervorosamente.
Primrose Greené um disco primorosamente interpretado, delícia sónica para os nossos ouvidos. É, também, o disco de alguém que ainda se esconde demasiado de si mesmo, refugiado que está no porto seguro que são os seus heróis. “Primrose Green” tem que ser um ponto de partida para algo especial. Só assim fará verdadeiramente sentido. Só assim o apreciaremos devidamente. Ansiamos (e tememos) pelo futuro de Ryley Walker.