Perdemos, mas não é nada connosco
O silêncio de António Costa na derrota madeirense deixa uma mensagem inquietante.
O PS teve uma derrota estrondosa na Madeira, onde corre o risco de se eclipsar. Obteve 11,41% (seis deputados no Parlamento regional) contra os 44,33 do PSD vencedor, ficando atrás do CDS/PP, que conseguiu 13,69% (nove lugares). Foi um resultado surpreendente não só por ter ficado muito aquém de todas as sondagens, mas também porque jogava para vencer ou, no mínimo, para voltar a ser segunda força, posição que havia perdido nas regionais de 2011, justamente conquistada pelos centristas de José Manuel Rodrigues. Para além do mais, esta foi a primeira eleição com Alberto João Jardim fora de combate, o que prometia ser uma janela de oportunidade para um partido que apostou todas as fichas contra um governante tido como o único capaz de manter um partido dilacerado por lutas intestinas, bem visíveis, de resto, na corrida pela liderança interna, disputada por três candidatos.
O PS-Madeira, eternamente dividido entre os políticos regionais que querem controlar o partido no arquipélago (mas fazer carreira política em Lisboa) e os dirigentes locais que, durante décadas, foram sobrevivendo à humilhação jardinista e à quase total indiferença da direcção nacional, não soube aproveitar este momento único, acabando esmagado por quem soube perceber o potencial desta eleição. Os socialistas fizeram tudo mal. Em vez de se afirmarem, diluíram a sua marca numa coligação sem conteúdo nem projecto, transmitindo aos madeirenses a péssima impressão de que, em vez de soluções para os problemas, apenas concorriam para ganhar lugares. A aliança espúria com o PTP, que na região funciona apenas como partido "barriga de aluguer" para José Manuel Coelho, uma personagem controversa cuja "carreira política" tem sido marcada pela arruaça, ainda mais contribuiu para cimentar esta ideia por parte do eleitorado. O facto de o PS ter andado toda a campanha a tentar esconder este candidato incómodo dá bem a dimensão da má consciência dos seus dirigentes, que sabiam o que andavam a fazer. Tentaram substituir a falta de projecto com a contratação de Quim Barreiros para animar as hostes na recta final da campanha. O resultado viu-se.
Quem não viu, ou não quis ver, foi a direcção nacional do PS. E não foi por falta de aviso (ver texto das págs. 4/5). A cúpula socialista vive entre a versão oficial de que este sufrágio não contamina as legislativas e a versão oficiosa de que tudo é culpa dos "seguristas", até agora instalados nessa espécie de aldeia gaulesa que é a Madeira. As duas versões são más e acabam por ter um efeito colateral devastador. Tanta sofreguidão a isolar a direcção dos resultados não abona nada a favor da coragem com que, no Largo do Rato, se encara a adversidade. E o silêncio ensurdecedor de António Costa na noite da derrota eleitoral deixa uma mensagem inquietante. Qualquer coisa como: "perdemos, mas não é nada connosco".