O regresso a uma noite com que os Azeitonas nunca tinham sonhado
Em Serviço Ocasional, Os Azeitonas recordam o inacreditável concerto em que tocaram para um Coliseu do Porto esgotado e com 60 músicos em palco.
Não é, no entanto, esta peculiar actividade que abastece Anda Comigo Ver os Aviões, canção dos portuenses Os Azeitonas que se espalhou pelo país e os tirou da quase obscuridade. O rastilho aceso pelo tema de Salão América, uma canção de amor movida pela vontade de partilhar mundo, fez com que as praças dos seus habituais concertos ao ar livre estivessem, de repente, repletas de multidões conhecedoras do reportório da banda. “Uma massa anónima que nasce do chão”, comenta Miguel Araújo ao PÚBLICO. “Não sabemos onde as pessoas nos descobriram – possivelmente no YouTube ou na rádio.”
Foi a partir desse período, algures em 2010/2011, que a sorte do grupo começou a mudar, ao mesmo tempo que se ia conhecendo a carreira a solo de Miguel Araújo e este se tornava um autor frequente em discos de António Zambujo e Ana Moura. Com a edição de AZ, em 2013, percebia-se depois que Anda Comigo Ver os Aviões não fora um avulso tiro certeiro e a crescente popularidade do grupo haveria de desembocar em dois concertos esgotados nos Coliseus de Porto e Lisboa, em Novembro desse mesmo ano. É esse momento, de alguma incredulidade para a banda, que agora surge documentado no CD+DVD Serviço Ocasional – Os Azeitonas no Coliseu do Porto. “No meu caso”, confessa o vocalista Mário ‘Marlon’, “tendo trabalhado como assistente de sala no Coliseu, nunca me tinha imaginado estar naquele palco a actuar.” “A banda não foi pensada para estar um dia a dar um concerto deste género, muito menos naquela sala e com casa cheia”, acrescenta Miguel Araújo.
Esclareça-se o que Miguel Araújo quer dizer com “concerto deste género”. Num dos temas em que não participava – Os Azeitonas revezam-se nas vozes –, Miguel deu uma espreitadela aos bastidores e assustou-se com a imagem: “Não conhecia metade das pessoas que estava lá”, lembra. E isso acontecia porque toda a azáfama em redor de uma actuação registada em áudio e vídeo, nalguns momentos com 60 músicos em palco e com um director de cena de teatro e de musicais contratado para o efeito, era demonstrativa da extrema importância daquela noite para a vida do grupo.
“Foi a nossa oportunidade de reproduzir o disco pelas duas únicas vezes da maneira como foi gravado”, dizem relativamente às duas ocasiões em que puderam ser acompanhados pela big band, pelo quarteto de cordas e pelo quarteto de clarinetes que haviam participado em AZ. João Salcedo fala de uma “magnitude um bocado descabida” – “já que íamos para o Coliseu, fizemos uma coisa se calhar exagerada” –, mas era esse o preço a pagar: como agradecimento ao público que os tem acompanhado quiseram oferecer “a maior festa” que conseguissem montar. De tal forma, atira Luísa “Nena”, outra das vozes do grupo, que da próxima vez, para não se repetirem nem fazerem a coisa por menos, só se levarem “elefantes”.
Apesar de todo o concerto ter sido cuidadosamente preparado durante uma semana de ensaios no restaurante de um amigo (“o único local onde conseguíamos juntar toda a gente”, justificam), Os Azeitonas tomaram a decisão consciente de “trabalhar claramente para o concerto”. “Quando se filma um DVD a sala tem de estar toda iluminada, quase como se fosse um programa de televisão”, compara Miguel Araújo. Mas o momento era demasiado importante na vida da banda para ser pensado apenas num futuro formato de CD e DVD. Em primeiro lugar, estava o facto de estarem naquele palco, diante daquele público. O resto viria depois. Veio agora.