Consórcio liderado por LNEC estuda efeitos de alterações climáticas na água
O objectivo "é avaliar, de forma inovadora, os impactos das alterações climáticas no ciclo integrado da água, das águas superficiais, às subterrâneas ou costeiras, promovendo estratégias de gestão do risco e de medidas de adaptação", explica a coordenadora do consórcio, Rafaela de Saldanha Matos, do LNEC.
As estratégias a propor vão basear-se "numa lógica de diminuição de vulnerabilidades e de acréscimo da capacidade de resiliência do sistema", acrescentou a investigadora e directora do departamento de Hidráulica e Ambiente do LNEC.
O projecto conta com uma equipa de 70 elementos, de centros de investigação, autoridades da água, utilizadores, indústria e empresas, e vai seguir seis casos, três localizados no norte da Europa (Noruega, Holanda e Alemanha) e três no sul (Espanha, Portugal e Chipre).
Em Portugal, que vai receber dois milhões de euros do total, os parceiros são, além do LNEC, a EPAL, a Comunidade Intermunicipal da Lezíria do Tejo (CIMLT), a Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR) e a Sociedade Portuguesa de Inovação, e foi escolhida a zona da bacia do Tejo.
A EPAL é um grande utilizador do recurso hídrico para abastecer a cidade de Lisboa, utilizando águas superficiais, de Castelo de Bode, e algumas reservas subterrâneas, exemplificou a coordenadora do projecto.
O trabalho abrange um conjunto representativo de condições climáticas, de combinações de usos da água – desde o urbano, ao agrícola ou industrial –, tipologias de pressões e várias problemáticas – como inundações e secas, qualidade da água e poluição, ou conflitos no uso do recurso pelos diferentes sectores de actividade económica.
A diversidade pretende garantir a possibilidade de replicação das soluções desenvolvidas para outras regiões, nomeadamente na bacia do Mediterrâneo.
Rafaela de Saldanha Matos explicou que a vertente inovadora, técnica e científica, reflecte-se nos "métodos de previsão de cenários de alterações climáticas", para os próximos dez a 15 anos, com uma "resolução espacial muito fina, que pode ir até ao quilómetro", desenvolvido por especialistas de uma universidade de Berlim, e que permite ajustar a previsão a situações de planeamento muito específicas.
Esta informação vai permitir capacitar os decisores para actuarem em contextos e níveis geográficos regionais e locais, quando ocorrerem fenómenos meteorológicos extremos, de cheia ou seca, que afetem a quantidade e qualidade de água disponível, e for necessário definir prioridades de utilização.
"Junta-se a previsão com a situação que vai acontecer de conflitos de uso da água para diferentes agentes e sectores de actividade económica, o que é uma coisa extraordinariamente importante", defendeu a especialista.
E alertou que "se não estiverem previstos os modos de diálogo e consenso razoável em conflito de uso, é muito difícil, em cima do acontecimento, dirimir estes assuntos".
O projecto cria um fórum onde os problemas vão ser colocados e explicados e haverá colaboração para o processo de solução, dos cientistas com os intervenientes das restantes entidades, salientou Rafaela de Saldanha Matos.