Associação de lesados do BES promete ir “até às últimas consequências”
“A solução vai ter que sair do Novo Banco, o Novo Banco é quem se comprometeu a nos pagar e vai ter que ser o Novo Banco, juntamente com as diversas entidades, CMVM [Comissão do Mercado de Valores Mobiliários], Banco de Portugal, o próprio Governo. Vamos até às últimas consequências, eles vão ter que arranjar uma solução para nos ressarcir”, afirmou o presidente da associação, Ricardo Ângelo.
Aos jornalistas, no final de uma assembleia-geral da associação, que se realizou na freguesia de Souto da Carpalhosa, concelho de Leiria, Ricardo Ângelo assegurou que a associação está disposta a tudo, quando questionado se pondera colocar entraves à venda do Novo Banco caso não haja reembolso.
“Mas, neste momento, estamos mais que abertos para a solução negocial. Somos pessoas de bem, somos cidadãos que queremos, acima de tudo, ser ressarcidos e tentamos evitar tudo o que seja jurídico e tribunais, não temos interesse nenhum nisso”, afiançou o responsável, sublinhando que o interesse dos lesados é a negociação e falar com aquelas entidades para resolverem o problema.
À pergunta se os protestos de rua, que têm culminado com a entrada dos lesados em agências do Novo Banco, são para manter, Ricardo Ângelo respondeu afirmativamente, referindo que a associação “tem tentado dissociar-se um pouco destes protestos”, mas admitiu impossibilidade em “controlar as pessoas”.
“As pessoas estão fora de si, porque ninguém lida bem com uma situação destas”, advertiu, frisando: “É uma situação de nos prometerem um pagamento consecutivamente e sempre gorarem as suas expectativas”.
Para o dirigente, “o Novo Banco, nesse aspecto, tem-se comportado de forma atroz, porque quando se diz que vai pagar não se pode agora, ao fim de sete meses de espera, não pagar às pessoas”.
“Estou convicto que o Novo Banco tem interesse em preservar estes seus clientes e nós somos clientes fiéis”, afirmou, adiantando que a associação Os Indignados e Enganados do Papel Comercial, com cerca de 500 associados, representa no mínimo “80 milhões de euros”.
O responsável adiantou que da reunião de hoje, que juntou 300 pessoas, saiu “a concertação de várias estratégias para a resolução deste problema”, apontando, além das entidades envolvidas neste processo, o recurso à Comissão Europeia, a informação aos bancos compradores e outras actividades, “algumas mais fortes”, mas que não especificou.
“O problema aqui é só um, estas entidades parece que se esquecem dos compromissos que assumiram. Os compromissos eram simples, era pagar, agora não se volta atrás, não se recua quando estão vidas em questão”, reiterou, considerando que “o interesse nacional é o interesse dos cidadãos, não é os interesses da banca”.
A 03 de agosto de 2014, o Banco de Portugal tomou o controlo do BES, após a apresentação de prejuízos semestrais de 3,6 mil milhões de euros, e anunciou a separação da instituição em duas entidades: o chamado 'banco mau' (um veículo que mantém o nome BES e que concentra os activos e passivos tóxicos do BES, assim como os accionistas) e o banco de transição que foi designado Novo Banco.