Incursão turca na Síria para retirar relíquia desperta fúria de Damasco

Operação resgatou soldados que guardavam o mausoléu de Suleyman Shah, avô do fundador do império otomano. Síria denunciou "agressão flagrante".

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Foto de 2008 do mausoléu de Suleyman Shah Salih Boztas/Zaman Daily via Cihan News Agency/REUTERS
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O exército turco avançou através de Kobani, de novo controlada pelos curdos Mursel Coban/REUTERS

A operação foi motivada pela deterioração da situação de segurança junto ao enclave turco de algumas centenas de metros quadrados onde estavam os restos mortais do avô de Osman I, fundador do império, justificou Davutoglu.

“As relíquias do dignitário turco foram temporariamente trazidas para a Turquia para serem depois levadas para a Síria”, disse, citado pela AFP. A coluna militar turca passou por Kobani, cidade síria fronteiriça que o Estado Islâmico tentou tomar entre Setembro e Janeiro passado, quando foi rechaçado por combatentes curdos.

O Governo sírio qualificou a incursão turca no seu território como uma "agressão flagrante" e que iria responsabilizar Ancara pelas suas repercussões. Um comunicado divulgado pela televisão estatal síria revelava que a Turquia tinha informado Damasco acerca da operação, mas não aguardou a luz-verde.

A Turquia rompeu as relações com o regime de Bashar al-Assad a partir do momento em que estalou a guerra civil em 2011 e já acolheu cerca de dois milhões de refugiados sírios.

O enclave, que nos termos de um tratado de 1921 é território turco, fica a cerca de 30 quilómetros da fronteira, nas margens do rio Eufrates.

A operação, segundo o primeiro-ministro, “foi lançada às 21h locais de sábado [19h em Portugal Continental] com a passagem de 572 soldados pelo posto fronteiriço de Mursitpinar”. Entraram em território sírio cerca de quatro dezenas de carros de combate e dezenas de outros veículos blindados.

Davutoglu explicou, em conferência de imprensa, que "a decisão foi tomada apenas em Ancara, dentro do enquadramento do direito internacional, sem ser pedida qualquer permissão ou apoio de qualquer parte".

"O exército turco teria de ultrapassar fosse qual fosse o obstáculo, independententemente de com quem se deparasse, arriscando combates", acrescentou o primeiro-ministro.

De acordo com Ahmet Davutoglu, um soldado turco morreu num acidente durante a incursão, mas a operação “correu bem”, apesar dos “riscos potencialmente elevados”.

O mausoléu fica numa área onde tem havido intensos combates entre curdos e membros do Estados Islâmico. Era guardada em permanência por um contingente que era periodicamente rendido. O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, já tinha alertado que qualquer acto contra o mausoléu seria considerado um ataque ao território turco, algo que acabou por não suceder.

A Turquia tinha ameaçado os jihadistas de represálias, caso atacassem os soldados turcos que protegiam o lugar simbólico.

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