Ucrânia considera “inaceitáveis” condições da Rússia para um acordo

Em vez de um documento completo que permita pôr fim ao conflito, pode sair de Minsk apenas uma declaração conjunta. FMI anuncia acordo para um novo empréstimo a Kiev.

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Poroshenko num intervalo das negociações em Minsk Grigory Dukor/Reuters

“Infelizmente ainda não boas notícias”, disse o chefe de Estado ucraniano à AFP durante uma pausa nas negociações. A maratona negocial que juntou Poroshenko ao Presidente russo, Vladimir Putin, e que foi promovida pelos líderes da França, François Hollande, e da Alemanha, Angela Merkel, presentes na capital da Bielorrúsia, prolongou-se por 12 horas na quarta-feira, entrou pela madrugada e já recomeçou esta quinta-feira de manhã.

“Há condições que eu considero inaceitáveis”, disse ainda Poroshenko, explicando não saber se um acordo chegará a ser assinado. De acordo com a agência de notícias russa RIA, Kiev não aceita nem a linha de demarcação no Leste proposta por Moscovo nem o estatuto pretendido por Putin para as regiões sob controlo dos rebeldes.

Por outro lado, os separatistas pró-russos estarão a exigir a retirada do Exército ucraniano em Debaltseve, um nó ferroviário a nordeste de Donetsk que permitiria ligar esta cidade a Lugansk, o seu outro grande bastião.

“Angela Merkel e o Presidente François Hollande ajudam-nos muito”, mas “a situação é muito difícil", explicou o Presidente ucraniano. Segundo a agência de notícias francesa, os quatro dirigentes passaram parte da noite em branco a negociar ponto a ponto o documento que visa pôr fim a dez meses de guerra que já fizeram mais de 5300 mortos nesta ex-república soviética.

Um responsável diplomático citado igualmente pela AFP admite que seja assinado um acordo pelo Grupo de Contacto, que reúne representantes russos, ucranianos e da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), reunido desde terça-feira em paralelo na mesma cidade. Aqui chegou a falar-se da assinatura de um cessar-fogo imediato, mas os líderes separatistas continuam a recusar assinar qualquer acordo.

Este texto incluiria “a concretização do acordo de Minsk de 5 de Setembro”, um protocolo de cessar-fogo desenvolvido nos dias seguintes onde se reconhecia a integridade territorial da Ucrânia, se pedia mais autonomia para o território controlado pelos separatistas pró-russos e se estabelecia uma zona desmilitarizada — é o único documento para tentar resolver o conflito assinado até agora por todas as partes, mas nunca foi cumprido.

A Reuters teve acesso a um documento que discutia um cessar-fogo com início no sábado, dia 15, a retirada de todas as armas pesadas, a criação de uma zona de segurança e o retorno do controlo total da fronteira às autoridades ucranianas até ao fim do ano, assim como a retirada das tropas estrangeiras. Mas a agência não sabe se era apenas um esboço para discussão ou algo mais próximo de um acordo final.

Apesar das expectativas levantadas com o envolvimento do Presidente Hollande e da chanceler Merkel, a cimeira de Minsk pode acabar com uma declaração conjunta — em vez de um acordo total — que seja assinada apenas pelos enviados presentes na reunião do Grupo de Contacto e não pelos próprios líderes.

Enquanto decorre a negociação de Minsk, Kiev esperava um acordo com o Fundo Monetário Internacional sobre um novo empréstimo: a directora do FMI, Christine Lagarde, acaba de anunciar que foi proposto à Ucrânia um novo empréstimo de 15,5 mil milhões de euros a quatro anos em troca de reformas.

Numa conferência de imprensa em Bruxelas, Lagarde diz que este acordo ainda tem de ser aprovado pelo conselho de administração do FMI, o que deverá acontecer “antes do fim de Fevereiro”.

No terreno, dois soldados ucranianos foram mortos no Leste do país, enquanto sete civis foram mortos e 14 ficaram feridos na capital separatista, Donetsk, dizem as autoridades locais.

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