Kiev espera acordo com o FMI nas próximas horas

Todos reconhecem que os 17 mil milhões de dólares previstos inicialmente já não chegam, mas Kiev tem de aprovar medidas muito duras, de combate à corrupção, cortes na despesa pública e aumento de impostos.

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O primeiro-ministro e o Presidente reuniram-se nesta quarta-feira Mykola Lazarenko/Reuters

O primeiro-ministro, Arseni Iatseniuk, acredita que as partes podem chegar a acordo ainda esta semana, mas as reformas exigidas ao Governo e a austeridade imposta à população vão pôr à prova a relativa estabilidade política que se vive em Kiev desde as eleições legislativas de Outubro de 2014.

Ainda não há acordo sobre o valor que o FMI está disposto a emprestar à Ucrânia, mas já ninguém duvida de que o país precisa de muito mais do que os 17 mil milhões de dólares (mais de 15 mil milhões de euros) previstos em Abril do ano passado (no âmbito de um pacote internacional que podia chegar aos 30 mil milhões de dólares).

Os pormenores do empréstimo à Ucrânia não são conhecidos, mas as declarações públicas de responsáveis do FMI indicam que a organização está renitente em suportar a maior fatia. A directora, Christine Lagarde, admitiu no início da semana que será preciso emprestar mais dinheiro à Ucrânia, mas chamou todas as partes para essa discussão: "Assumir que os fundos adicionais terão de sair do FMI é muito rebuscado. Para que a economia seja recuperada e para que essa recuperação seja mantida, o dinheiro terá de vir de várias fontes."

Para injectar mais dinheiro na economia, que está à beira da bancarrota, a Ucrânia terá de aprovar e acelerar uma série de reformas difíceis de concretizar, que passam pelo combate à corrupção, pelo aumento de impostos e por cortes na despesa pública.

O primeiro-ministro, Arseni Iatseniuk, era o nome preferido por Washington para chefiar o Governo de transição na Ucrânia e é conhecido pela sua determinação em promover reformas e aplicar medidas de austeridade – quando chegou ao poder de forma provisória, após a queda do antigo Presidente Viktor Ianukovich, em Fevereiro do ano passado, Iatseniuk descreveu a sua própria equipa como um "governo kamikaze", deixando clara qual seria a sua linha de acção: "Vamos fazer tudo para não entrar em bancarrota. Se tivermos apoio financeiro do FMI e dos Estados Unidos, faremos tudo."

Em Julho do ano passado, quando a coligação que o apoiava se desfez devido à marcação de eleições antecipadas, Iatseniuk acusou os seus parceiros de porem "os interesses políticos à frente dos destinos do país": "Quem é que está disposto a concorrer a eleições e, ao mesmo tempo, aprovar leis impopulares?"

Nesta quarta-feira, o primeiro-ministro ucraniano disse que as negociações com o FMI "não são fáceis, porque ninguém gosta de dar dinheiro à toa".

"Há assuntos por resolver – questões relacionadas com a reforma do sector energético", disse Arseni Iatseniuk, referindo-se ao sistema de subsídios estatais que permite vender gás aos ucranianos a um preço mais baixo.

O Parlamento ucraniano vai discutir até ao final do mês as difíceis reformas exigidas ao país – se conseguir convencer o FMI e outras organizações, como o G7, a Ucrânia poderá receber um empréstimo fundamental para a sua recuperação e negociar com outros credores a redução de taxas de juro e alargamento de prazos de pagamento, mas poderá ter de enfrentar o descontentamento da população, principalmente se tiver de continuar a suportar os custos de uma guerra numa parte importante do seu território.

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