Concordaram em discordar. E agora?
A crise na Grécia piora de dia para dia. E a profecia de Merkel parece concretizar-se.
Há quem diga que o Banco Central Europeu (BCE) tirou o tapete à Grécia ao anunciar que vai deixar de aceitar dívida grega como colateral, deixando assim os bancos gregos em maus lençóis. Mas a verdade é que Mario Draghi limitou-se a acelerar o calendário e a devolver aos líderes europeus a responsabilidade de uma escolha que terá de ser política e não de política monetária. O BCE justifica a sua decisão com uma evidência: “não é possível prever uma conclusão com sucesso” da próxima avaliação da troika, uma interpretação legítima tendo em contra as promessas eleitorais e as declarações dos responsáveis do Syriza que agora governam o país.
O cerco a Alexis Tsipras começa a fechar-se. Esta quarta-feira já tinha sido a vez de a Alemanha dar a conhecer um documento de preparação para a reunião do Eurogrupo onde se tentar alinhavar uma posição comum dos membros do euro. E o documento não é simpático para com a Grécia. Diz que o país deve cumprir tudo o que combinou com a troika, não deixando nenhuma margem para negociação.
Aliás, a falta de sintonia entre os gregos e os alemães ficou patente no encontro de ontem entre o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, e o seu homólogo grego, Yanis Varoufakis. Terminaram a reunião com Schäuble de dizer que “concordaram em discordar”. E Varoufakis a dizer que nem isso conseguiram.
Mario Draghi abriu esta quinta-feira uma linha de emergência de 60 mil milhões que permite manter os bancos gregos ligados à máquina. Até lá alguém terá de arrepiar caminho. Caso contrário começa-se a desenhar o cenário para se concretizar a profecia que Angela Merkel fez antes das eleições na Grécia: se o Syriza ganhar as eleições, a Grécia sai da zona euro. Um cenário em que todos vão sair a perder. E ninguém sabe quanto.