Ângela Ferreira, Ayrson Heráclito e Edson Chagas finalistas do Novo Banco Photo
Museu Colecção Berardo e Novo Banco garantem continuidade do maior prémio de arte contemporânea atribuído em Portugal.
Nesta aposta pela continuidade, o Novo Banco manterá o seu principal parceiro — o Museu Colecção Berardo —, o formato e o valor pecuniário do prémio. Ou seja, prossegue a ambição de internacionalização, com a selecção dos artistas que podem ser de nacionalidade portuguesa, brasileira ou dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa, bem como os 40 mil euros para o vencedor que será anunciado em Setembro.
Um mês depois da inauguração da exposição que marcou o décimo aniversário do prémio, em Junho do ano passado, começou o colapso e o calvário da marca BES, remetida para o universo do “banco mau”, colocando num limbo todas as iniciativas mecenáticas a que o banco liderado por Ricardo Salgado estava associado. Sem nunca ter havido um anúncio formal da continuidade do prémio, foram surgindo sinais de que este poderia continuar, como a atribuição do novo nome (Novo Banco Photo) à exposição dos finalistas de 2014 que foi levada para o Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, Brasil, inaugurada já depois do anúncio do fim do BES.
A manutenção do prémio na sua essência significa que, nesta fase, os artistas são nomeados por uma exposição de obras em suporte fotográfico e/ou a edição de uma publicação durante 2014.
Ângela Ferreira foi nomeada pela exposição Indépendance Cha Cha, apresentada em 2014 na galeria Lumiar Cité, em Lisboa. O júri explica que esta mostra surge “como uma continuação do projecto que a artista desenvolveu para a Bienal de Lubumbashi, justapondo uma forma escultórica reminiscente da arquitectura colonial do centro de Lubumbashi e dois vídeos”. Um destes trabalhos videográficos “documenta uma performance, apresentada na bienal, que lida com narrativas de trabalho forçado nas minas daquela zona”; o outro “mostra a interpretação de Indépendance Cha Cha, um hino emblemático dos movimentos independentistas da África francófona na década de 1960”.
A exposição Luanda, Encyclopedic City, que representou Angola na 55.ª Bienal de Veneza (2013), onde conquistou o Leão de Ouro pela melhor participação nacional, e a exposição na galeria Belfast Exposed Photography (2014), onde apresentou a série em curso Found Not Taken, valeram a Edson Chagas a nomeação para o prémio deste ano. No seu trabalho, este artista angolano “usa o contexto urbano de cidades como Luanda, Londres ou Newport como cenário para criar um ‘arquivo’ de objectos banais”. Uma das motivações destas deambulações é “captar a forma como os objectos abandonados, dispersos pela cidade, oferecem um olhar sobre os hábitos de consumo de um determinado local”.
O brasileiro Ayrson Heráclito usa o vídeo e a fotografia como principais suportes de trabalho. De acordo com o júri, ao longo da sua obra tem investigado “as ricas relações entre África e o Brasil, explorando as ligações políticas, sociais e culturais entre estes dois territórios, demonstrando um interesse especial na história da escravatura e nas religiões afro-brasileiras”. A perspectiva a partir da qual desenvolve esta reflexão “é privilegiada”: Salvador, Bahia, a capital do Brasil africano, onde vive e trabalha. Ao longo de 2014, Heráclito participou em várias exposições, entre as quais o júri destaca Segredos Internos (1999-2009), Do Valongo à Favela (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro), Múltiplo II em Histórias Mestiças (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo), bem como o vídeo Barrueco (2004) em Memórias Inapagáveis (VideoBrasil, SESC Pompeia, São Paulo).
O júri que escolheu os três finalistas foi composto por Luís Silva (Lisboa), fundador e director da galeria Kunsthalle Lissabon, Adriano Pedrosa (São Paulo), director artístico do Museu de Arte de São Paulo, e Bisi Silva (Lagos), fundadora e directora do Centre for Contemporary Art, em Lagos, Nigéria. A exposição dos artistas seleccionados será inaugurada no Museu Colecção Berardo no dia 17 de Junho. Os trabalhos apresentados serão inéditos e será a partir deles que o júri de premiação escolherá o vencedor.
Pedro Lapa, presidente do júri do prémio Novo Banco Photo e director artístico do Museu Colecção Berardo, louva a aposta na continuidade desta distinção e sublinha o seu papel na formação de “uma rede própria de conhecimento, circulação e premiação de artistas lusófonos”. “Todos os países envolvidos tiveram contacto com as práticas artísticas no domínio fotográfico dos seus parceiros, que muitas vezes desconheciam. O prémio tem sido, por isso, um relevante contributo para o aprofundamento desta rede lusófona, que importa salvaguardar num mundo cada vez mais globalizado, onde novas articulações se definem”, refere Lapa.
A artista brasileira Letícia Ramos foi a vencedora da edição do ano passado, que foi disputada com Délio Jasse (Angola) e José Pedro Cortes (Portugal).