Europa aprova a construção do seu novo foguetão, o Ariane-6
O desenvolvimento do novo lançador de satélites custará 3800 milhões de euros. No total, a Europa aprovou ontem programas no valor de 5700 milhões de euros. O objectivo é torná-la mais competitiva no espaço.
Esta reunião magna da ESA realizada de dois em dois anos – em que participam os ministros dos 20 países-membros europeus, bem como do Canadá, membro-associado da ESA – destina-se a definir as apostas da agência para o futuro. Nuno Crato, ministro da Educação e Ciência português, esteve também no Luxemburgo. Além do Ariane-6, em cima da mesa dos ministros esteve a discussão – e aprovação – de programas espaciais no total de 5700 milhões de euros.
Entre o financiamento aprovado está, por exemplo, aquele que se destina à quota europeia para a Estação Espacial Internacional (ISS): 800 milhões de euros, até 2020. Ou verbas para a missão ExoMars, que começará com o lançamento de uma sonda para a órbita de Marte em 2016, seguindo-se o de um robô em 2018. Estimada em 1200 milhões de euros, a ExoMars conta com a participação da Rússia e agora a ESA aprovou 200 milhões de euros destinados à segunda parte da missão.
Mas o futuro do programa de lançamento de satélites da Europa era a principal assunto que toda a gente queria ver arrumado. O Ariane-5, que concentra mais de metade do mercado mundial de lançamentos de satélites, tornou-se uma referência de segurança e sucesso na indústria espacial. Os seus lançamentos já geraram mais de 50.000 milhões de euros, de acordo com a ESA.
A Rússia e os Estados Unidos são outros países que também põem satélites no espaço. Mas desde o aparecimento da empresa norte-americana SpaceX, fundada por Elon Musk em 2002, que a indústria espacial se alterou. A empresa está a oferecer lançamentos por apenas 60 milhões de euros, enquanto o lançamento de um Ariane-5 custa 130 milhões de euros.
Desde 2012 que a ESA está à procura de um substituto mais barato para o Ariane-5. Até Junho último, os planos para esta substituição passavam por um foguetão de transição, chamado Ariane-5 ME, que começaria a trabalhar em meados de 2018. Depois, suceder-lhe-ia o Ariane-6, em 2021. Esta ideia reunia o consenso da França e da Alemanha.
Mas em Junho, as empresas europeias Airbus e Safran apresentaram por iniciativa própria um projecto para a construção do Ariane-6. Com o Ariane-6, pôr satélites em órbita poderá ficar entre os 70 e 90 milhões de euros. Toda a indústria aeroespacial estava agora à espera da decisão dos ministros nesta reunião.
“É um sucesso, atrevo-me mesmo a dizer que é um grande sucesso”, reagiu nesta terça-feira Jean-Jacques Dordain, director-geral da ESA, depois do acordo, citado pela agência noticiosa AFP. O novo foguetão terá duas versões: uma terá dois propulsores e transportará cargas até cinco toneladas; a outra terá quatro propulsores e poderá transportar até 11 toneladas. Tal como o actual Ariane-5 (cuja carga máxima vai até 10,5 toneladas), o futuro foguetão servirá tanto para o lançamento de missões científicas da ESA como de satélites comerciais.
No pacote de 3800 milhões de euros também está incluído um montante para a construção do foguetão Vega-C, destinado a cargas mais pequenas, e ainda a construção de uma nova rampa de lançamento no centro espacial de Kourou, na Guiana Francesa, de onde descolam os foguetões europeus. Na reunião ministerial de 2016 irá fazer-se o ponto da situação do desenvolvimento técnico dos novos foguetões.
Tanto o secretário de Estado da Ciência francês, Geneviève Fioraso, como a ministra da Economia e Indústria alemã, Brigitte Zypries, elogiaram a decisão de ontem. A França e a Alemanha não só têm um peso na indústria aeroespacial, construindo os foguetões, como contribuem com uma fatia importante dinheiro da ESA: a França comprometeu-se com 52% e a Alemanha com 22% do financiamento total agora aprovado.
Portugal, além da sua quota anual de 10 milhões de euros como membro da ESA, vai também contribuir com outros 10 milhões de euros para vários programas até 2020. “Dentro dos limites do nosso orçamento nacional, vamos reforçar a nossa participação nos programas opcionais da ESA”, disse nesta terça-feira Nuno Crato no conselho, referindo-se a programas de telecomunicações e de observação e monitorização da Terra por satélite.