Paris identifica combatente francês no último vídeo de decapitações na Síria
Jihadistas mataram 1500 sírios desde que proclamaram um califado, em Junho. Na batalha de Kobani já perderam mais de 700 homens.
Neste vídeo, de 16 minutos, são filmadas as decapitações de 18 sírios identificados como pilotos e surgem vários combatentes de rosto descoberto – pelo menos dois serão franceses e um deles foi identificado por vários peritos em terrorismo como Maxime Hauchard, um francês de 22 anos nascido na região de Eure, no Norte da França, e que hoje se faz chamar Abu Abdallah al-Faransi.
O ministro do Interior Bernard Cazeneuve diz que a análise dos serviços secretos “concluiu que um cidadão francês terá participado directamente nestes crimes horrendos”. Ainda decorrem “investigações mas é altamente provável que se trate de Maxime Hauchard, nascido em 1992, que partiu para a Síria em Agosto de 2013, depois de estar na Mauritânia em 2012”.
Em Julho, Maxime, que se converteu ao islão aos 17 anos, contava numa entrevista ao canal de televisão francÊs BFM que integrava o autoproclamado Estado Islâmico há onze meses e que se encontrava na cidade de Raqqa, o bastião sírio do grupo.
Alguns media do Reino Unido identificaram outro combatente que aparece nas gravações como Nasser Muthana, um britânico de 20 anos, mas o pai, Ahmed Muthana, que chegou a admitir tratar-se do seu filho, disse à BBC que segundo as imagens que viu não é Nasser. “Não se parece nada, há muitas diferenças. Este tem um nariz grande, o do meu filho é achatado.”
O alegado britânico está ao lado do único homem que surge de cara tapada, o britânico conhecido como “Jihadi John”, que apareceu em todos os vídeos das decapitações de ocidentais, os trabalhadores humanitários britânicos Alan Henning e David Haines e os jornalistas norte-americanos James Foley e Steven Sotloff.
Ao contrário desses vídeos, relativamente curtos e em que as vítimas surgiam de fato-macaco cor de laranja e “Jihadi John” de espada encostada aos seus pescoços, a morte de Peter Kassig não se vê – provavelmente a pedido de um dos líderes de um grupo que colabora com o Estado Islâmico, a Frente al-Nusra, que foi tratado por Kassig. Já em cativeiro, o norte-americano do Indiana converteu-se ao islão.
O mais extraordinário neste vídeo é o facto de tantos combatentes aparecerem de cara à mostra, ao mesmo tempo que é dito onde as imagens estão a ser gravadas, Dabiq, uma cidade do Norte da Síria. Dabiq é muito importante para o grupo – tanto que é o nome da sua revista online em inglês, dedicada a tentar recrutar entre os jovens ocidentais.
Um hadith (o registo das palavras e das acções de Maomé e dos seus companheiros, segunda fonte mais importante do islão a seguir ao Corão) refere Dabiq como cenário futuro de uma batalha apocalíptica entre muçulmanos e não crentes. É aqui que “Jihadi John” chama a Barack Obama “cão de Roma” e anuncia a morte de Kassig como a primeira de um militar, semanas depois de Washington ter anunciado que vai enviar 3000 soldados e conselheiros militares para ajudar as forças de segurança iraquianas.
São os jihadistas a dizerem “venham”, ao mesmo tempo que contam a sua história, desde o nascimento do grupo, em 2004, um ano depois da invasão do Iraque por parte dos Estados Unidos. “O Estado Islâmico começará em breve a massacrar-vos nas vossas ruas”, ameaçam. É também uma forma de dizer que perder uma batalha não significa perder a guerra, dias após a morte de vários dos seus líderes num ataque aéreo norte-americano.
Kobani, a cidade síria curda junto à fronteira com a Turquia que os radicais anunciaram durante meses como quase tomada também continua a resistir, com os combatentes curdos a serem ajudados pelos bombardeamentos da coligação formada por Obama. Segundo a ONG síria Observatório dos Direitos Humanos, 1153 pessoas morreram na cidade nos últimos dois meses, desde 16 de Setembro: 712 eram jihadistas, 398 combates curdos, 16 sírios do Exército Livre e 27 civis curdos.
Mais dura é a contabilidade que o mesmo observatório faz dos assassínios do grupo radical desde que proclamou um califado em partes da Síria e do Iraque. Cinco meses chegaram para executar 1429 pessoas e a maioria destas (879) eram civis. Muitas vítimas foram decapitadas e os seus corpos foram expostos em público “com o objectivo de aterrorizar civis e grupos rivais”.