O dinossauro dos braços gigantes: mistério resolvido
Durante quase 50 anos, apenas se conheciam duas patas dianteiras do Deinocheirus mirificus, descoberto na Mongólia.
Quase meio século depois, o mistério foi finalmente resolvido. Na última edição da revista Nature, uma equipa de cientistas anunciou a descoberta de dois esqueletos quase completos da estranha criatura que viveu há 70 milhões de anos – o Deinocheirus mirificus, que significa “invulgar mão horrível”. E que esses esqueletos apresentam uma combinação de características pouco ortodoxas, incluindo as famosas patas dianteiras, nunca antes observadas num único dinossauro.
Atingindo 11 metros de comprimento e 6,4 toneladas, o Deinocheirus mirificus era o maior membro conhecido de um grupo de dinossauros parecidos com as aves – os ornitomimossauros (semelhantes às avestruzes), anunciou a equipa. O dorso estava encimado por uma estrutura em forma de vela, cuja função ainda permanece enigmática. E as vértebras da cauda estavam fundidas para suportarem penas nessa parte do corpo.
Proliferando numa região fluvial, este dinossauro era omnívoro, comendo peixes e plantas com um focinho desdentado em forma de bico, que se tornava mais largo nos lados como os dinossauros herbívoros bico-de-pato. O Deinocheirus tinha os pés largos, com dedos que terminavam em cascos, o que o deve ter ajudado a manter-se de pé em solos molhados.
Tinha ainda ancas largas e deslocava-se lentamente, mas era capaz de se defender graças ao seu enorme tamanho e três garras em cada pata dianteira. Era praticamente tão grande como um grande predador que existia na vizinhança – o Tarbosaurus, um primo do Tyrannosaurus rex.
Durante décadas, os cientistas especularam sobre o Deinocheirus. De forma correcta, era considerado um terópode, um ramo dos dinossauros (carnívoros e bípedes) que inclui gigantes como o T-rex e também a linhagem que evoluiu para as aves. Mas era um terópode de que tipo?
“O Deinocheirus permaneceu um dos dinossauros mais misteriosos do mundo. Agora ao descobrimos esqueletos quase completos de Deinocheirus, sabemos que aspecto tinha, quão grande era e o que comia”, disse o primeiro autor do artigo científico, o paleontólogo Yuong-Nam Lee, director do Museu Geológico do Instituto de Geociências e Recursos Minerais, em Daejeon, na Coreia do Sul.
O paleontólogo Thomas Holtz, da Universidade de Maryland (EUA), num comentário a acompanhar o estudo publicado na Nature, considera que ninguém podia prever o conjunto espantoso de atributos deste dinossauro: “Esperei literalmente a minha vida inteira para ver finalmente revelado o Deinocheirus.”
Mas o azar quase impedia esta revelação. Os dois novos esqueletos foram descobertos em 2006 e 2009 em locais distintos do deserto de Gobi. Só que lhes faltavam as cabeças e outras partes do corpo. Os cientistas aperceberam-se de que foram traficadas por coleccionadores ilegais de fósseis: essas partes dos esqueletos tinham sido vendidas a coleccionadores privados.
Os ossos em falta da escavação de 2009 acabaram num coleccionador na Alemanha. Acidentalmente, foram vistos pelo paleontólogo belga Pascal Godefroit, que reconheceu o que eram aqueles ossos e informou Yuong-Nam Lee, bem como outros cientistas.
Os investigadores conseguiram então persuadir o coleccionador a doar os fósseis por causa da sua importância para a ciência, contou Yuong-Nam Lee. E os fósseis regressaram à Mongólia em Maio. Mas os ossos do exemplar descoberto em 2006 continuam desaparecidos.