E o bacalhau, porra?
Para os coleccionadores de prosa analfabeta, pretensiosa e atroz (PAPA) os tempos vão sendo cada vez melhores.
Os exemplos mais cobiçados são aqueles que descrevem coisas boas - sejam livros ou, neste caso, azeites.
Diga-se já que o azeite biológico da Herdade do Esporão não é nada mau. A garrafa é bonita e o grafismo é hipster quanto baste, mas o azeite, sendo carote e só disponível, irritantemente, ao meio litro, é saboroso e, considerando que é a primeira vez que fazem um azeite biológico, triunfal.
Na garrafa, em letras cursivas, começa o desastre: "Azeite certificado em modo de produção biológico, com base em azeitonas provenientes..." Matem-me já. Não me pagam para corrigi-los mas a sintaxe da nossa língua - aliás, de qualquer língua - exige que se diga que "este azeite foi feito segundo os critérios da produção biológica, usando apenas azeitonas blá blá blá"
"É ideal", remata a prosa garrafal, para "acompanhar legumes grelhados ou cozinhados ao vapor". Será que os autores (só pode ser uma comitiva a autora deste crime) desta PAPA sabem o que são legumes? Caso saibam - o que é impossível, para quem tenha uma mínima ideia das leguminosas - será que acham que devem ser grelhadas ou cozidas ao vapor para atingir o grau sublime em que merecem ser baptizadas com umas gotas do azeite biológico do Esporão?
Também é "ideal para [...] pratos de massa com ervas aromáticas frescas". Ah, pois sim. É o que comemos quando calha. Ou nunca.