DGS admite “possibilidade de importação” de casos de ébola até fim de Outubro
Director-geral da Saúde assegura que o país está preparado e que, apesar de tudo, o risco para Portugal continua a ser baixo.
O director-geral da Saúde, que falava aos jornalistas no final da comissão parlamentar de saúde, em que foi ouvido sobre a epidemia do vírus do ébola na sequência de um requerimento do PS, reiterou que “o risco de Portugal é baixo”, mas reforçou que “o risco aumenta com o descontrolo da epidemia” nos países afectados, pelo que “hoje é mais elevado do que na semana anterior”. Depois, apelou a que não se alimentem “alarmismos” – uma ideia que repetiu por várias vezes durante a comissão, em que pediu para “não se alarmar a população sem justificação”, insistindo que se “informem os portugueses com tranquilidade”.
“Cada vez que há mais casos naqueles países [Libéria, Serra Leoa, e Guiné-Conacri], maior é a probabilidade de importarmos casos. Admitimos, até ao final de Outubro, a eventualidade de podermos ter um, dois ou três casos importados, mas casos secundários a partir desses não devem acontecer”, explicou Francisco George. Porém, o responsável da Direcção-Geral da Saúde (DGS) admitiu que, se o ébola chegar a países com os quais Portugal tem mais ligações, a situação poderá merecer uma revisão. “Se a Guiné-Bissau for invadida pela epidemia, a situação de risco em relação a Portugal eleva-se”, explicou.
Casos suspeitos devem ligar para Linha Saúde 24
“Nesta fase estamos certos de que o dispositivo que foi montado e as medidas que foram adoptadas são suficientes”, garantiu George, apelando a que qualquer cidadão com suspeitas de infecção por ébola não se dirija directamente para uma unidade de saúde. Perante qualquer dúvida, o primeiro contacto deverá ser sempre feito para a Linha Saúde 24 (808 24 24 24), que fará a triagem das situações e encaminhará os casos que se justifiquem para uma das três unidades de referência no país para combater a epidemia: Hospital de São João, no Porto, e hospitais Curry Cabral e Dona Estefânia, em Lisboa.
Questionado sobre se vão mobilizar mais hospitais caso apareçam novos casos, o director-geral da Saúde deu o exemplo norte-americano. “Aqui é um pouco ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, em que no plano de contingência todos estavam preparados e pelos vistos não estavam inteiramente preparados. Agora vão fazer hospitais de referência. Nós primeiro seleccionámos unidades hospitalares de referência e se for necessário mobilizaremos todo o parque hospitalar”, disse. Ainda sobre os hospitais, reforçou que o facto de existirem três unidades de referência não invalida que todas as unidades do “sistema público, social e privado” sigam as normas da DGS para o combate ao ébola.
Antes, durante a comissão de saúde, George tinha avançado que a Linha Saúde 24 encaminhou, até ao momento, oito casos suspeitos de ébola e que a linha telefónica criada para os profissionais de saúde e os elementos do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras recebeu 80 contactos, sendo que apenas quatro foram validades. No total, o director-geral da saúde confirmou cinco casos suspeitos em todo o país, sendo que três eram afinal de paludismo, um de febre tifóide e o último ainda não foi apurado apesar de a infecção por ébola ter sido descartada.
No que diz respeito a medidas adicionais que possam vir a ser tomadas para os aeroportos, Francisco George remeteu eventuais decisões para o que for decidido de forma conjunta no conselho europeu de quinta-feira. “Nós vamos fazer o que for feito em Paris ou em Bruxelas”, sintetizou.
Críticas ao parecer da Ordem dos Médicos
Durante a comissão de saúde, o director-geral da Saúde tinha também criticado e desvalorizado o documento sobre o ébola divulgado na terça-feira pelo Colégio da Especialidade de Saúde Pública da Ordem dos Médicos. George garantiu que o documento não foi aprovado pelos médicos que integram aquele órgão, desvalorizando o impacto das conclusões no trabalho de combate à epidemia com origem na África Ocidental. “Não é o documento que foi emitido pelo Colégio de Saúde Pública que vai perturbar o nosso trabalho. O conselho não se reuniu para aprovar o documento”, reiterou Francisco George, que salientou que falta conhecer o parecer do Colégio da Especialidade de Infecciologia.
No documento, o Colégio da Especialidade de Saúde Pública manifestava preocupação com a forma como as autoridades de Saúde portuguesas têm lidado com o problema da infecção pelo ébola e considerava que têm passado “mensagens de enganosa tranquilidade” à população. No parecer muito crítico relativamente ao que tem sido feito até à data em Portugal para enfrentar a eventual entrada de doentes com ébola, Pedro Serrano, que preside a este grupo de especialistas e assina o documento, defendia que o país não está preparado para lidar com a possibilidade de importação de casos, um “risco teórico” que é “alto”, no seu entender, dadas as relações de proximidade com os países africanos de língua oficial portuguesa.
Ainda a este propósito, perante os deputados, Francisco George insistiu que “o risco é baixo” e que “o documento da ordem cita um cenário que não existe hoje”. Mas salvaguardou que as suas declarações são válidas no dia em que fala, 15 de Outubro, podendo ser revistas se houver alterações nos países afectados pela epidemia que tem foco na Libéria, Serra Leoa, e Guiné-Conacri.
O director-geral da Saúde considerou que a sua presença na comissão de saúde desta quarta-feira é “a mais importante intervenção” que faz em 14 anos à frente daquele organismo. Por isso mesmo, defendeu que o trabalho só pode ser feito se “estivermos absolutamente juntos neste processo”. “Se o nosso dispositivo montado pela DGS não tiver o apoio e a simpatia dos membros do Governo e da Assembleia da República mudam-se os dirigentes da DGS”, afirmou George perante os deputados e acompanhado pelo presidente do Instituto Nacional de Emergência Médica, pelo presidente do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge e pelo director do Serviço de Infecciologia do Hospital Curry Cabral, uma das unidades de referência para o combate ao ébola. “Se isto [o plano contra o ébola] correr mal não é uma questão do Ministério da Saúde, do primeiro-ministro, nem do Presidente da República, nem dos grupos parlamentares. A responsabilidade é nossa, do dispositivo de coordenação”, assegurou George.