Ferro rejeita “atrelar” PS ao Governo e pede eleições antecipadas

Na sua estreia como líder parlamentar socialista, o antigo secretário-geral desafiou Passos para um debate televisivo com António Costa. E deixou argumentos políticos e europeus para a marcação de eleições antes do Verão.

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Ferro Rodrigues estreou-se nesta sexta-feira nos debates contra o primeiro-ministro Enric Vives-Rubio

“Estão muito enganados se depois do que fizeram ao país pensam que vão atrelar o PS ao comboio de austeridade e do empobrecimento”, avisou o líder da bancada socialista, depois de assumir que António Costa está disponível para um debate na televisão com o primeiro-ministro para discutir “alternativas”.

Respondendo ao líder da bancada do PSD, que acusara o candidato do PS a primeiro-ministro de vazio de ideias, Ferro Rodrigues gracejou. “Poderão interrogar António Costa que estará ali em frente, poderão questioná-lo directamente”, disse, apontando para a bancada do Governo.

Na resposta, Passos Coelho lembrou que os socialistas nunca apoiaram o Executivo nos últimos três anos e que só houve um entendimento – no IRC. “Surpreende-me muito, porque o país tem estado a corrigir erros de uma grande dimensão que foram cometidos ao longo dos vários anos”, afirmou, recordando que os socialistas não estiveram disponíveis para corrigir o desenho do memorando.

“E agora diz que para a frente não conta: não é surpreendente. Quando há alterações na liderança, esperamos que isso signifique qualquer coisa de materialmente diferente, espero que essa afirmação seja precipitada”, concluiu. Mas Ferro Rodrigues não voltou ao tema e seguiu para a questão da colocação de professores, criando uma situação que qualificou como “caótica”.  

O líder da bancada socialista questionou ainda o primeiro-ministro sobre a possibilidade de antecipar as legislativas de Outubro de 2015 para não perturbar a apresentação da proposta de Orçamento de Estado e para compatibilizar Portugal com as exigências do semestre europeu. Passos Coelho lembrou que, em Setembro de 2009, com um governo PS, a realização de eleições no prazo previsto levou a que o Orçamento do Estado só fosse apresentado no início do ano seguinte e em que “ocultou  um grande desastre”, referindo-se ao défice apurado.

A antecipação de eleições foi rejeitada. “Nós respeitaremos os prazos constitucionais. Não vejo nenhuma razão para que não possamos ter eleições quando elas devem ter lugar”, esclareceu Passos Coelho.

O desafio para um “pacto” entre os partidos de Ferro Rodrigues acabou por quase passar despercebido no plenário. Porque, depois de algumas tiradas em voz forte no início da sua intervenção que lhe valeram vários aplausos da bancada, o novo líder parlamentar acabou as perguntas ao primeiro-ministro lendo o discurso, num tom monocórdico, sob um incomodativo barulho das bancadas da maioria.

Na primeira fila, Ferro teve à sua direita Jorge Fão, Pedro Nuno Santos e Vieira da Silva; à esquerda Inês de Medeiros, Sónia Fertuzinhos e Hortense Matos. A segunda fila ficou para boa parte dos seguristas que integram a co-liderança da bancada. Alberto Martins e a presidente do partido, Maria de Belém refugiaram-se na penúltima fila da bancada.

Ferro está "enferrujado" ou em compasso de espera?
Daniel Adrião, militante do PS e especialista em comunicação considera “natural que na sua primeira intervenção parlamentar Ferro Rodrigues apareça um pouco enferrujado, não esteja rotinado nas intervenções e precise de algum tempo para ganhar à vontade parlamentar”. Até porque “isso é um processo e o debate parlamentar tem muitas técnicas e muitos truques”.

Ressalvando que apenas viu excertos da intervenção de Ferro, onde não se inclui a parte do discurso escrito, o socialista considerou “interessante” o facto de o PS ter agora uma atitude mais “pró-activa” em mostrar que o novo líder “está apostado em ser primeiro-ministro o mais depressa possível”. Diz mesmo que o PS “está num processo de tomada de poder” e ganhou “combatividade e frescura, apesar de Ferro Rodrigues ser um senador” do partido. Adrião vinca também ser de “grande abnegação quem já foi líder do partido aceitar a missão de liderar o grupo parlamentar”.

O politólogo do Instituto de Ciências Sociais António Costa Pinto vê nessa atitude de Ferro Rodrigues apenas um compasso de espera. Para a cadeira de segunda figura da nação: a de presidente da Assembleia da República. “Ferro é uma solução de compromisso mas transitória” e será nos próximos meses no Parlamento uma “correia de transmissão de um líder ausente e, internamente, o conciliador de um grupo parlamentar dividido”.

Sobre a mensagem da estreia, Ferro quis ser assertivo na “confiança” que o PS tem de que “com Costa ganhará as próximas eleições”. Por outro lado, tentou propor um pacto para a realização de eleições antecipadas, “passando a imagem de uma transmissão pacífica de poder, numa conjuntura em que o desgaste do Governo é muito significativo (resolvia as polémicas da educação e da justiça)”.“A performance discursiva nos debates quinzenais não é o elemento principal. Se fossem, provavelmente [Ferro] não teria sido a melhor escolha”, admite Costa Pinto.

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