Matemática tem muito peso no currículo do básico e pouco no do secundário
Comparação de Portugal com outros países feita pela Eurydice mostra qual a fatia do tempo de instrução mínimo em cada país dedicado a áreas-chave.
No ensino secundário o cenário muda de figura. E a Matemática tem menos peso: 7%. A média no resto dos países mantém-se nos 15%. São dados da Eurydice, a rede europeia de informação sobre educação, que teve em conta, nesta análise, apenas o chamado “tempo mínimo de instrução” definido em cada país para o ensino obrigatório, nas suas diferentes componentes. Ou seja, um referencial mínimo, que é recomendado às escolas que, contudo, têm a possibilidade de dedicar ainda mais horas a estas áreas.
O relatório que faz estas e outras comparações chama-se Comparative Overview on Instruction Time in Full-time Compulsory Education in Europe 2013/14. E foi divulgado nesta quinta-feira com um propósito essencial: ajudar pais, alunos e decisores políticos a perceberem que peso está a ser dado a áreas consideradas essenciais. Nas contas da rede não são tidas em conta as horas gastas com actividades de apoio aos alunos, com explicações ou com trabalhos de casa.
Primeira conclusão: a diversidade. Em Portugal o ensino obrigatório vai até ao 12.º, como na Irlanda do Norte e Turquia, por exemplo. Na Croácia é de apenas 8 anos. No Reino Unido vai até ao 11.º. Na Finlândia, vai até ao 9.º, tal como na Suécia.
O número de horas de instrução anual também varia bastante. Nos cálculos da Eurydice o currículo obrigatório no ensino público chega, ou até ultrapassa, as 900 horas/ano em países como a Irlanda, a França, a Itália, a Holanda. Na Croácia não ultrapassa as 600. Em Portugal é calculado em 823 horas/ano.
Como é que estas horas são distribuídas? Em todos os países europeus estudados pela rede Eurydice a língua materna e a literatura têm a primazia no básico. Ou seja, são as “cadeiras” com mais peso. As excepções são Malta e Portugal.
De que forma? Em Malta a prioridade é mesmo a Matemática (20% do horário “mínimo” dos alunos vai para os números). Em Portugal, letras e números têm o mesmo peso (27%), o que é uma originalidade apontada no relatório.
No secundário, em pouco menos de metade dos países, a leitura, escrita e literatura continuam a ocupar a maior fatia do bolo horário. Raramente a Matemática é a disciplina com mais horas. Note-se que na nomenclatura da Eurydice, no caso português o ensino básico é constituído pelos primeiros seis anos de escola e quando se fala de “ensino secundário” contabiliza-se a partir do 7.º.
O peso das línguas
O que se passa na Finlândia, por exemplo, que está sempre no topo dos rankings, sobretudo nos que medem os resultados dos alunos a Matemática? O peso desta disciplina no ensino básico é muito menor do que em Portugal (16,2%). Mas no secundário é muito maior (11,8% contra os 7% portugueses).
Ainda na Finlândia, que costuma ser citada como exemplo pelos decisores políticos, apenas cerca de metade do tempo mínimo de instrução dos alunos é canalizado para as quatro áreas consideradas chave no relatório (matemática, leitura, ciências e línguas) — o resto vai para áreas como artes e desporto. Já Portugal atribui às quatro áreas-chave 64% do tempo mínimo no básico e 43% no secundário.
Na abordagem às línguas estrangeiras também se encontram diferenças de país para país. Ainda no ensino básico, Portugal é dos que menos peso lhes dá no horário: 3,1% do tempo mínimo que as escolas devem cumprir. Em Espanha, França, Finlândia, Noruega, para dar alguns exemplos, ele é mais de duas vezes superior.
Nos níveis de ensino obrigatório incluídos no secundário o cenário muda um pouco. Desde logo, o peso das línguas estrangeiras sobe e há países onde elas são mesmo as maiores protagonistas. Acontece na Alemanha (18,2% do tempo de instrução é-lhes dedicado), França (17,6%), Chipre (14%), Noruega (17,2%). Em Portugal, 13,1% do tempo de instrução do ensino secundário está por conta das línguas, 13,5% é dedicado à leitura e escrita, 9,5% às ciências e 7% à Matemática.