Em São Pedro da Cova, as memórias escrevem-se a carvão

São Pedro da Cova, Gondomar, não quer enterrar o seu passado mineiro. A vila procura formas de valorizar a memória de uma actividade que fez parte da vida de quase todas as famílias.

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Minas de carvão em São Pedro da Cova Fernando Veludo/NFactos

Eleito com 23 anos, o jovem comunista pretende que a freguesia seja compensada pelos riscos ambientais a que foi sujeita com a deposição de resíduos perigosos nas escombreiras da antiga mina. Para o autarca, a vila ficaria bem servida se encontrasse apoios para poder preservar e valorizar o seu importante património mineiro, simbolicamente representado no enorme cavalete de betão a partir do qual se fazia o acesso às minas encerradas no início da década de 70.

Passados 40 anos, a identidade local ainda continua indelevelmente marcada por essa herança, visível nas ruínas do antigo complexo, no casario do bairro operário, no nome das ruas e na Casa da Malta, que no passado sábado celebrou 50 anos de existência. No espaço construído para albergar os mineiros que provinham de outros concelhos, em 50 catres minúsculos de medidas ainda visíveis nas marcas do chão, foi instalado, há precisamente 25 anos, o Museu Mineiro.

Pequeno, mantido sem apoios, o equipamento mantém viva a memória de uma actividade que, nos tempos da II Guerra, chegou a empregar 1800 pessoas. Na Casa da Malta foi construída uma réplica de uma galeria de acesso ao interior da montanha, onde não faltam a luz dos gasómetros – objecto presente em muitas casas da vila – e cá fora, à espera de dinheiro para uma reconstrução, vê-se um veículo, a zorra, outrora usada para transportar, por carril, o carvão para a central eléctrica que alimentava a rede da STCP, no Porto.

No ar já não existe o cabo suspenso que, ao longo de sete quilómetros, levava a antracite, uma das de melhor qualidade do país, das serras de Gondomar para o Monte Aventino, também no Porto. Mas isso não quer dizer, como se percebe ao andar na rua, que São Pedro da Cova não seja, como sempre foi, ao longo de mais de dois seculos, terra com uma identidade ainda alimentada a carvão.  

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