Empresas de limpezas contestam aumento do salário mínimo

Subida para 505 euros pode aumentar o desemprego, diz a Associação Portuguesa de Facility Services. Grandes empresas aplaudem medida.

Em Portugal, há 400 mil pessoas a receber actualmente 485 euros por mês. Tendo em conta os números avançados ao PÚBLICO pela APFS, os trabalhadores das limpezas e manutenção pesam 25% deste universo.

Em respostas enviadas por e-mail, a associação refere que os trabalhadores representam mais de 85% nos custos gerais das empresas e “dificilmente” será possível reflectir a subida de salário nos preços praticados aos clientes. “A redução de TSU proposta é muito baixa e não absorve o aumento que nos é imposto”, reage a associação.

As empresas de limpeza e manutenção de edifícios dizem não defender uma “política de baixos salários”, mas criticam o aumento “no último trimestre do ano”: vai desequilibrar “completamente todos os orçamentos e propostas de preço que foram apresentadas e que não podem ser alteradas”. “Esperamos que os nossos clientes, nos quais se inclui o Estado, partilhem deste esfoço e nos ajudem a suportar este aumento aceitando rever os contratos que serão alterados por esta medida”, apelam.

Calçado defende aumento ligado à produtividade
Nos sectores tradicionais do têxtil e do calçado, onde se admite que existe um número elevado de trabalhadores a receber o salário mínimo, o aumento agora acordado não apanhou as empresas de surpresa.

Apesar de defender que “era melhor que o aumento do salário mínimo ocorresse apenas a 1 de Janeiro”, Paulo Gonçalves, porta-voz da APICCAPS, associação patronal da fileira do calçado, admite que “de certa forma, as empresas estavam à espera deste aumento, que acontece a poucos dias de iniciarem, com os sindicatos, “o processo de revisão do contrato colectivo do sector”, no âmbito do qual “seria natural que a massa salarial dos colaboradores das empresas fosse actualizada”.

O responsável recorda que a APICCAPS sempre defendeu que “o aumento de salários deve estar directamente associado a aumentos de produtividade (…) sem colocar em causa a competitividade geral das empresas”. Ainda assim, e em face do acordo alcançado, a associação garante que “as empresas cumprirão o que vier a ser estabelecido”.

O responsável diz desconhecer que universo de trabalhadores poderá ser abrangido por este aumento, recordando, no entanto, que o salário médio do sector ronda os 700 euros.

Nos têxteis, o presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) admite que o sector está em melhores condições para efectuar um aumento do salário mínimo do que antes, pelo aumento de exportações, que deverão atingir este ano os 4,5 mil milhões de euros. “Admitimos que não cause muita dificuldade às empresas e que não prejudique a competitividade e que não prejudique o emprego", afirmou João Costa, citado pela Lusa. Apesar do sector não contar com "muita gente com o salário mínimo", a alteração terá impacto em todas as categorias salariais, admitiu o líder associativo.

O estudo do Governo divulgado recentemente avançava que os sectores ligados ao alojamento e à restauração são os que têm maior percentagem de trabalhadores a ganhar a remuneração mínima mensal. No dia em que entregou uma petição na Assembleia da República em defesa da reposição do IVA a 13%, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp) garantia que sem criação e manutenção de emprego “não há salário mínimo”. “Temos um problema a montante que se prende com a questão do IVA e que se não for bem tratada, relega para segundo plano o tema do ordenado mínimo”, diz Ana Jacinto, secretária-geral. A associação não se opõe ao aumento para os 505 euros, mas diz que na prática os salários praticados na restauração são superiores, tendo em conta o subsídio de alimentação.


Contactada, a Associação da Hotelaria de Portugal remeteu reacções para a Confederação do Turismo Português, organização a que pertence.

Aplausos das grandes empresas
Reacção oposta teve a Confederação dos Serviços de Portugal (CSP) que entre os seus associados conta com empresas de segurança privada, grande distribuição ou transportes expresso. “A percentagem de trabalhadores que recebe o salário mínimo nacional no universo de empresas representadas pela CSP não tem qualquer expressão”, diz Luís Reis, presidente desta confederação. Contudo, aplaude a medida, dizendo que é “essencial para dinamizar a economia e o consumo interno”.

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