Mais de 130 mil curdos sírios fugiram para a Turquia em três dias
Reforço da segurança na fronteira para impedir entrada de combatentes na Síria provoca novos confrontos na fronteira.
“Estamos a preparamo-nos para o pior dos cenários, que é a chegada de centenas de milhares de refugiados”, disse o vice-primeiro-ministro turco, Numan Kurtulmus, ao adiantar as últimas estimativas sobre a maré humana que desde sexta-feira desagua nas fronteiras do Sul do país.
A Turquia acolhia já mais de 800 mil refugiados sírios, fugidos à guerra que começou em 2011 com a repressão dos protestos contra o regime de Bashar al-Assad. Mas o actual êxodo tem apenas comparação com a chegada maciça de civis ao Curdistão iraquiano durante o Verão, para fugir às sucessivas ofensivas dos jihadistas, que travam uma guerra em duas frentes, na Síria e no Iraque.
Agora, a atenção do EI virou-se para Kobani (Ayn al-Arab, para os árabes), uma das três maiores cidades curdas da Síria, situada a poucos quilómetros da fronteira turca. Depois de uma primeira ofensiva em Julho, os jihadistas tomaram na semana passada aldeias vizinhas, precipitando a fuga dos habitantes e das centenas de milhares de deslocados que ali tinham encontrado refúgio.
Sexta-feira, a Turquia abriu as suas fronteiras ao longo de uma secção de 30 quilómetros para permitir a entrada dos civis em fuga, acolhidos em escolas e abrigos improvisados. Mas, além dos refugiados que chegam, há centenas de curdos que tentam deixar a Turquia para se juntar à defesa de Kobani, o que levou Ancara a encerrar sete dos nove postos fronteiriços que tinham sido abertos, adiantou à BBC o ACNUR.
Apesar de apoiar politicamente a aliança que os EUA tentam formar para combater o EI, a Turquia tem tentado manter-se à margem do conflito com o EI. Quando confrontada com o pedido de Washington para usar as suas bases aéreas nos ataques em curso no Iraque, Ancara lembrava que os radicais tinham em seu poder 49 turcos capturados em Junho em Mossul.
Os reféns foram libertados no sábado – o que poderá ter envolvido um acordo com os radicais –, mas um responsável do Governo turco assegurou que a política de Ancara não deve mudar. Apesar da ameaça que a aproximação do EI poderá representar para as suas fronteiras, a Turquia não vê com bons olhos a cooperação entre a guerrilha curda do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) e as suas congéneres síria e iraquiana, temendo que faça descarrilar o processo de paz iniciado em 2012 pelo agora Presidente Tayyip Recep Erdogan.
Tem, por isso, tentado travar os que, ouvindo os apelos à mobilização, tentam atravessar a fronteira para se juntar à defesa de Kobani. Entre eles estão curdos da Turquia, mas sobretudo sírios que se tinham refugiado no país com as famílias e agora estão a ser impedidos de regressar. As forças de segurança reforçaram os controlos na fronteira e nesta segunda-feira voltaram a envolver-se em confrontos com manifestantes, que acusam Ancara de, nos seus jogos de geopolítica, alinhar com o EI. “As autoridades turcas são responsáveis por esta situação. Estão protegem o Dash” (outra das designações porque é conhecido o EI), disse à AFP o deputado curdo Ibrahim Binici. Apesar do reforço das fronteiras, um comandante dos guerrilheiros em Kobani assegurou à Reuters que tem já centenas de curdos vindos da Turquia a lutar nas suas fileiras.