Dezenas de reféns turcos libertados no Iraque
Turquia recusou integrar coligação internacional por temer pela vida destes reféns nas maõs do EI. Milhares de curdos em fuga do norte do Iraque
Nem o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, nem o Presidente, Recep Tayyip Erdogan, avançaram detalhes sobre a operação de resgate que conduziu à libertação dos reféns, limitando-se a dizer que foi uma operação que decorreu às primeiras horas de sábado e que foi coordenada pelos serviços secretos turcos. A televisão NTV disse saber, de fonte não divulgada, que nenhum resgate tinha sido pago.
Entre os reféns libertados estão o cônsul-geral e a sua mulher, vários diplomatas e os seus filhos, bem como membros das forças especiais turcas e três funcionários iraquianos.
Até agora, a Turquia recusou qualquer envolvimento na campanha militar contra o Estado Islâmico e não integrou a lista de países que aceitaram fazer parte da coligação construída pelos Estados Unidos para combater os jihadistas no Iraque e na Síria. Um dos argumentos que usou para recusar foi precisamente o de temer retaliações contra os reféns
Agora que os 49 turcos estão em liberdade, o analista da BBC Mark Lowen pergunta se o país, que tem o segundo maior exército da NATO e alberga uma importante base aérea militar dos EUA, vai aceitar juntar-se à coligação. O mesmo Lowen responde que é improvável que isso aconteça. “A Turquia sempre foi relutante em envolver-se na luta contra o EI. O país partilha longas e vulneráveis fronteiras com o Iraque e a Síria, os jihadistas recrutam militantes no seu território e tem importantes interesses comerciais na região que podem ser alvo de ataques retaliatórios por parte do EI.”
Mais de 40 países decidiram participar, de uma maneira ou outra, na coligação liderada pelos EUA. E na sexta-feira, a aviação francesa realizou os seus primeiros bombardeamentos aéreos contra posições do EI no Iraque
O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse estar “absolutamente convencido que através de uma campanha mundial vai ser possível vencer a ameaça do EI”, grupo que conta com 35 mil homens na Síria e no Iraque. Até o Irão tem “um papel a desempenhar”, sublinhou.
Ofensiva do EI leva à fuga de milhares de curdos
Nos últimos dois dias, os extremistas sunitas do EI realizaram uma enorme ofensiva no Norte da Síria, tomando o controlo de 60 aldeias curdas em redor da cidade de Ayn al-Arab, segundo revelou o Observatórios Sírio dos Direitos do Homem (OSDH). Temendo a violência extrema dos jihadistas ultra-radicais, cerca de 45 mil curdos refugiram-se na Turquia, anunciou o vice-primeiro-ministro turco, Numan Kurtulmus. Vários milhares de outras pessoas estavam ainda na fronteira à espera de conseguir entrar na Turquia, testemunhou um fotógrafo da AFP.
Depois de se ter recusado a deixar entrar estes novos refugiados, a Turquia – que já acolhe quase um milhão e meio de sírios – justificou a abertura “excepcional” da fronteira com a violência dos combates entre os jihadistas do EI e as forças curdas iraquianas.
Um deslocado curdo disse à televisão turca Haber-Türk que os homens do EI tinham morto muitas pessoas e falou também em casos de violações de mulheres. “Há pelo menos 800 pessoas daquelas aldeias cujo paradeiro é desconhecido”, disse o director do OSDH, Rami Abdel Rahmane.