Satyajit Ray vezes 6
Chegam aos ecrãs de Lisboa e Porto, a partir da próxima semana, seis filmes de uma das traves-mestras do cinema indiano, o enorme Satyajit Ray
A selecção é singular, porque em vez de incidir sobre os títulos mais famosos e mais vistos (nada da inicial Trilogia de Apu, por exemplo) privilegia uma série de pequenos filmes, menos considerados e por norma secundarizados. Charulata, feito em 1964 e com argumento baseado em Tagore, será o mais célebre dos seis e, diga-se uma absoluta obra-prima. Dos restantes, quatro provêm desse período de meados dos anos 60 (O Covarde, O Santo, O Herói e A Grande Cidade) e o último faz um flash-forward até ao final dos anos 70 (O Deus Elefante).
Juntos, compõem um retrato, umas vezes divertido, outras vezes dramático, da sociedade bengali, do lugar das mulheres nessa sociedade, e da relação entre as classes urbanas, cultivadas e orgulhosas do legado britânico, e os folclores e misticismos populares. Nada a ver com Bollywood, é outra coisa. Nada a ver, também, com esta vaga de filmes, ingleses e americanos, dos Boyles ao Hallstroms, que se rendem aos estereótipos da “magia” indiana e fazem uma festa com isso. São o contrário disso, são a crítica perfeita à candura embevecida e “pós-colonial” dos Slumdog Millionaires e quejandos.