Novas sondagens dão vantagem mínima ao "não" à independência da Escócia
Sondagem YouGov indica que ideia de manutenção no Reino Unido recupera terreno. Estudo ICM confirma corrida taco-a-taco.
Num como noutro caso, as sondagens são favoráveis ao “não” mas por margens muito estreitas. No estudo YouGov para os jornais The Times e Sun a diferença entre os dois campos é de quatro pontos. No outro, da ICM para o Guardian, é de apenas dois. O desfecho do referendo continua em aberto numa altura em que, segundo esta última sondagem, 17% dos eleitores ainda não decidiram o sentido de voto.
A YouGov – que há dias admitiu, pela primeira e única vez até agora, um triunfo independentista – indica que o apoio ao “sim” diminuiu três pontos e que o “não” volta a liderar, com 52% contra 48% das intenções de voo. “É a primeira vez que o ‘não’ ganha terreno desde o início de Agosto", disse o presidente da empresa de estudos de mercado, Peter Kellner, citado pela Reuters.
A ICM dá 51% de vozes contra a independência e 49% a favor, uma diferença dentro das margens de erro.
Já depois do sobressalto que o anterior estudo YouGov provocou entre os unionistas, uma outra sondagem, do Instituto Survation, divulgada na terça-feira, indicava que 53% dos eleitores planeiam votar contra a independência, contra 47% que optariam pelo “sim” – diferença idêntica à registada há dois meses pelo mesmo instituto.
Forte mobilização
Os estudos de opinião dão também conta da elevada mobilização que o referendo criou na Escócia, onde 87% dos que responderam à sondagem feita para o Guardian se declaram “absolutamente certos de ir votar”.
O número de eleitores registados tinha já confirmado o interesse pela participação na histórica decisão: 97% da população adulta inscreveu-se para poder votar, criando o maior universo eleitoral da história da Escócia: 4.285.323 pessoas.
A ideia de independência parece reunir apoio maioritário no grupo dos 25-39 anos, de acordo com os resultados do estudo YouGov, realizado entre terça e quinta-feira. Na anterior sondagem da mesma empresa o “não” só liderava entre os reformados.
A tendência de os mais jovens serem maioritariamente favoráveis ao “sim” e de os mais velhos privilegiarem o “não” é confirmada pela ICM: 57% a favor da independência contra 43% na faixa 25-34 anos; 61% pela permanência na união contra 39% entre os de mais de 65 anos.
O estudo que no passado domingo provocou alarme nos meios políticos e financeiros de Londres – 51% do “sim” contra 49% do “não” – levou a uma queda da libra e ao anúncio do Royal Bank of Scotland de planos de mudança da sede social para Londres. O Lloys e outros bancos também fizeram saber que reforçariam a ligação à Inglaterra. Notícias como estas levaram o líder independentista Alex Salmond, chefe do governo escocês, a acusar o executivo central de Londres de orquestrar uma campanha de medo.
A preocupação com o que possa acontecer às poupanças dos escoceses parece jogar a favor dos partidários da manutenção da Escócia no Reino Unido. Por táctica eleitoral ou porque seja essa a sua verdadeira intenção ambas as partes jogam também no tabuleiro da incerteza: os independentistas manifestaram o desejo de continuarem a ter como moeda a libra, procurando sossegar os mais inquietos, mas o governo de Londres já declarou que não está disponível para isso.
O cenário de divisão na “família de nações” do Reino Unido, como lhe chamou o primeiro-ministro conservador, David Cameron, mobilizou a elite política britânica. Os principais líderes – Cameron, o seu parceiro liberal-democrata de governo Nick Clegg e o líder trabalhista Ed Miliband – deslocaram-se esta semana à Escócia para apelar ao “sim”.
Os trabalhistas, únicos que na Escócia têm uma implantação que rivaliza com os nacionalistas, empenharam-se a fundo, jogando todos os trunfos a favor da manutenção do Reino Unido com a sua actual configuração.
O envolvimento na campanha do "não" do ex-primeiro-ministro britânico Gordon Brown, um escocês, é em boa medida responsável pela recuperação unionista, de acordo com a sondagem YouGov. “Os seus avisos de que a independência será má para o emprego e para as finanças das famílias foram ouvidos pelos eleitores escoceses”, disse Peter Kellner. Mas diferenças tão pequenas entre os dois campos como as que as sondagens revelam apenas confirmam que tudo está em aberto.