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A passadeira e o tapete

O sobressalto que constituiu a derrota frente à Alemanha, no arranque do Euro 2012, não serviu sequer para levantar dúvidas sobre o rumo a seguir. E a caminhada triunfal até às meias-finais funcionou apenas como mecanismo de reforço para uma lógica de continuidade. Havia uma ideia, uma filosofia, um projecto. Havia, acima de tudo, razões para acreditar.

Os pontos de interrogação começaram a cair à porta da federação quando Portugal, perito em ziguezagues nas fases de apuramento, falhou mais uma vez a qualificação directa para uma fase final. Nesse momento, o bálsamo Cristiano Ronaldo acalmou as hostes, a Suécia caiu no play-off e a selecção entrava no Mundial 2014, a olhar para os oitavos-de-final e a pensar mais além.

Para chamar à razão os mais cépticos, Fernando Gomes puxou então dos galões. Dois meses antes da estreia na competição, deu um sinal inequívoco à navegação: fosse qual fosse a performance no Brasil, Paulo Bento era para manter. O contrato foi renovado até ao final do Euro 2016, com base numa premissa maior que a vertigem do instante: “Os nossos critérios de avaliação de desempenho do seleccionador nacional não se prendem exclusivamente com resultados”, justificou na altura.

O que importava valorizar, na óptica da direcção, eram “os processos e métodos de trabalho”, era “o compromisso com a FPF”, era “a ligação com as restantes áreas técnicas”. Estava estendida a passadeira vermelha ao seleccionador. Bento estava seguro como nenhum outro treinador antes parecia ter alguma vez estado.

Até que a realidade (a dura realidade) dos resultados foi ganhando terreno, corroendo as certezas de Fernando Gomes e expondo um Paulo Bento que parecia cada vez mais perdido na sua solidão. Ainda assim, a federação voltou a dar uma mostra pública de apoio à equipa técnica, quando indirectamente fez do gabinete médico o bode expiatório para o fracasso registado no Brasil.

Novo capítulo: levantava-se a ponta do véu para o Euro 2016. Em ano de centenário da FPF, o Portugal-Albânia foi preparado com pompa e circunstância. Estava tudo a postos para um novo começo, com novos jogadores, com novos objectivos. E com o mesmo treinador. Até que aquele golo no Estádio Municipal de Aveiro deixou o país desportivo em estado de sítio. Com ele, estilhaçaram-se a estabilidade e a continuidade nos gabinetes da federação. E emergiu a contradição. De um golo para o outro, a passadeira vermelha não era mais que um tapete de trapo a fugir debaixo dos pés de Paulo Bento.

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