Greve dos enfermeiros assinalada com protesto em frente ao Hospital de S. José

Adesão no Centro Hospitalar de Lisboa Central variou entre os 79% e os 92%, segundo os dados do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses.

Foto
Até dia 19, hospitais de Coimbra, Algarve e Alentejo vão ter paralizações Paulo Pimenta

Segundo Isabel Barbosa, dirigente do SEP, a adesão mais elevada foi registada no Hospital dos Capuchos, que alcançou os 92%. Seguiu-se o Hospital de Santa Marta, com 86%, S. José, com 82%, Curry Cabral e Maternidade Alfredo da Costa (MAC), ambos com 79%, e Dona Estefânia, com 78%. “A adesão superior a 80% corresponde às nossas expectativas. Foi isso que nós ouvimos por parte dos enfermeiros, um enorme descontentamento e vontade de aderir a esta greve”, sintetizou a também enfermeira da MAC, rodeada por profissionais com cartazes com frases de luta onde se lia “menos enfermeiros igual a menos cuidados” e “não à destruição do SNS” e que entoavam gritos de protesto como “Paulo Macedo escuta, os enfermeiros estão em luta”.

Licínia Vitorino, enfermeira-chefe do Serviço de Cirurgia do Hospital Curry Cabral, presente no protesto, explica que aderiu à greve devido ao “número deficitário de profissionais” e à “sobrecarga de trabalho”. No seu caso, coordena um serviço que deveria ter 48 profissionais e que apenas conta com 20. A enfermeira de 47 anos relata que são cada vez mais as situações em que os enfermeiros chegam a trabalhar o dobro das 40 horas semanais previstas. “Não se respeitam folgas, feriados nem períodos de descanso”, acrescenta, lembrando que ao fim de seis horas a atenção dos profissionais fica comprometida “aumentado a probabilidade de erro”.

Uma situação semelhante à vivida por Miguel Correia, de 35 anos, enfermeiro na Unidade de Cuidados Intensivos Neurocríticos do Hospital de S. José e que diz ser frequente trabalharem 50 a 55 horas por semana “por não haver enfermeiros suficientes”. No caso das urgências, dá como exemplo que a carência é de tal ordem que na altura do pico da gripe acumularam quase 1800 horas extraordinárias, insistindo que este padrão coloca em risco a “qualidade dos serviços dados aos doentes”.

O PÚBLICO contactou o gabinete de comunicação do Centro Hospitalar de Lisboa Central para saber os números de adesão à greve registados pela administração da instituição, mas ainda não obteve resposta.

Isabel Barbosa adianta que o protesto no Centro Hospitalar de Lisboa Central está em linha com os restantes, tendo como principal motivação “a carência de enfermeiros e todas as consequências que daí advêm”, como o “encerramento do número de camas nos serviços por falta de enfermeiros e a redução do número de enfermeiros para prestar cuidados aos utentes”.

Só neste centro hospitalar a dirigente do SEP estima que faltem 400 profissionais de enfermagem, acrescentando que nos últimos anos se registaram 253 saídas, pelo que considera “manifestamente insuficiente” os 400 enfermeiros que foram contratados em todo o país ao longo do primeiro semestre. Ao todo, o centro hospitalar tem 2300 enfermeiros.

As próprias contas da Ordem dos Enfermeiros apontam para um défice nacional na ordem dos 25 mil profissionais. Isabel Barbosa relata casos de horas de trabalho seguidas acima do legal e de muitas folgas por gozar, que diz afectarem “a qualidade dos cuidados que são prestados aos utentes”. “Esta é uma greve não só para defender os direitos dos enfermeiros mas para defender os utentes e o Serviço Nacional de Saúde”, sintetiza.

A greve convocada pelo SEP acontece num mês em que têm sido marcadas paralisações em hospitais e centros de saúde de todo o país, com os enfermeiros a admitirem avançar para uma greve nacional. A paralisação no Centro Hospitalar de Lisboa Central acontece no mesmo dia em que a estrutura sindical tem encontro marcado com o secretário de Estado adjunto da Saúde, Fernando Leal da Costa, e quando o ministro da Saúde já se comprometeu a contratar “centenas” de enfermeiros até ao final do ano.

Na sexta-feira, em resposta aos protestos, o ministro da Saúde adiantou que pretendem encurtar os processos de contratação para este sector, devendo a medida fazer parte do próximo Orçamento do Estado. Na altura, Paulo Macedo também avançou que só neste ano já recrutaram mais de 400 enfermeiros (contra 368 aposentações no mesmo período), citando os dados da Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), divulgados na véspera, que indicavam ainda que o recente aumento de trabalho das 35 para as 40 horas semanais corresponderia a “um ganho de cerca de 1300 enfermeiros”. Comprometeu-se, ainda, a contratar mais 400 até ao final do ano.

Sugerir correcção
Comentar