EUA dizem que EI é ameaça “além de tudo o que já [foi] visto”
Retórica sobe em Washington, mas no terreno os ataques continuam limitados.
Questionado sobre o perigo desencadeado por este grupo – que controla partes da Síria e do Iraque, que se declarou como sendo um califado e que já matou um jornalista norte-americano, mostrando-o num vídeo particularmente violento –, Hagel respondeu: “Eles combinam a ideologia com uma sofisticação de poder militar. Estão tremendamente bem financiados. Isto vai mais longe do que tudo o que já tenhamos visto.”
“A sofisticação do terrorismo e ideologia combinada com os recursos apresentam uma nova dinâmica e um novo paradigma de ameaças a este país”, concluiu.
A revista Foreign Policy faz notar que, apesar da subida da retórica, responsáveis americanos continuam a apresentar como a melhor solução para combater o EI a actual – bombardeamentos aéreos sobre o Iraque, particularmente no Curdistão, onde avançaram conquistando importantes posições estratégicas, como uma barragem, campos de gás e petróleo, silos de cereais, e onde mataram e perseguiram minorias como cristãos, yazidis ou turcomanos, deixando mais de meio milhão de deslocados e levando o Alto Comissariado da ONU a começar uma das maiores operações de ajuda humanitária da organização, ainda em curso.
Os EUA têm recusado propostas do Iraque para usar as suas bases aéreas e mantêm que os ataques aéreos são suficientes para lidar com esta ameaça do EI.
Organização "apocalíptica"
No vídeo em que mostraram o assassínio de James Foley, dizendo que era consequência dos ataques aéreos no Iraque, os jihadistas ameaçaram que iriam matar outro jornalista norte-americano, Steven Sotloff. Em seu poder, o EI tem 20 reféns estrangeiros, todos jornalistas, fotógrafos ou trabalhadores humanitários.
No Pentágono, Martin Dempsey, chefe do Estado-Maior Interarmas, classificou o EI como uma organização “apocalíptica” e defendeu que os Estados Unidos deviam por agora contentar-se com a sua “contenção”. Mas o grupo terá “um dia de ser derrotado”. E isso, considerou, será impossível sem atacar a sua base, a Síria. A estratégia norte-americana deverá ser antes concentrada em alianças na região, adiantou.
A Casa Branca revelou na quinta-feira que forças especiais entraram na Síria há algumas semanas para tentar resgatar Foley e outros reféns norte-americanos, a primeira vez, que se saiba, que tropas americanas entraram no país. A revelação foi feita por pressão dos meios de comunicação social, que se preparariam para publicar a história, disse uma porta-voz.
Desde o passado dia 8 que os Estados Unidos têm levado a cabo raides aéreos no Iraque, com um total de 90 ataques desde o início da operação, segundo o Pentágono. Destes, 57 foram perto da barragem, considerada a maior vitória do EI, e que no início da semana voltou ao controlo dos peshmerga, a força de combatentes curdos.
O EI fortaleceu-se aproveitando um vazio de poder na Síria e um governo iraquiano visto como demasiado radical e avesso a compromissos, deixando parte dos sunitas do país prontos a apoiar um movimento radical. Numa entrevista sobre a sua política no Médio Oriente, já depois do avanço do EI, o Presidente norte-americano, Barack Obama, sublinhou a necessidade de a par de uma intervenção militar haver acordos entre quem vai estar no poder nos países da zona. O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, afirmara na véspera que o movimento tem de ser “destruído”, criando expectativas de uma acção mais forte.
A discussão sobre o que fazer continua e há pressões de antigos militares para o Presidente agir já e com mais força: John Allen, que comandou a guerra no Afeganistão de 2011 a 2013, pediu a Obama que “agisse depressa para pressionar o sistema [do EI], quebrá-lo e destruir as suas peças”.