Uma menina de meses entre mais de mil migrantes, um recorde nas chegadas por barco a Espanha

Fontes espanholas culpam autoridades marroquinas pelo grande número de migrantes subsarianos que atravessaram o Estreito de Gibraltar nos últimos dias.

Fotogaleria
Um dos vários bebés resgatados pela marinha espanhola Jon Nazca/Reuters
Fotogaleria
Jon Nazca/Reuters
Fotogaleria
Jon Nazca/Reuters
Fotogaleria
MARCOS MORENO/AFP
Fotogaleria

Já desde 2010 que não havia tantas pessoas a passar, dizem as autoridades espanholas. O dia de terça-feira, com cerca de 900 chegadas, quebrou o recorde de um dia em Agosto de 2006 com 512 imigrantes a chegar por mar.

Quem trabalha em salvamentos diz que não se lembra de ver nada parecido. Óscar Sánchez, da tripulação de um dos barcos, a zarpar entre costa e mar trazendo pessoas, diz que não se lembra de nunca ter visto nada assim.

Há algumas razões: o mar estava calmo, havia pouco vento, e a segurança aumentou noutras fronteiras como em Ceuta e Mellila (em Mellila uma nova barreira tem sido intransponível para a grande maioria dos imigrantes, mas numa imagem surreal ontem cerca de 80 estiveram horas em cima da barreira, tentando entrar).

Mas fontes da polícia espanhola falam de uma outra razão: a permissividade de Marrocos, pressionado também pelo grande número de pessoas que esperam, em campos improvisados, a altura certa para passar, segundo o diário El País. “O que se faz quando uma banheira está quase a transbordar? Abre-se um pouco o relo para deixar sair parte da água”, exemplificava um agente espanhol que trabalha em imigração.

Um dos espanhóis envolvidos nas operações de salvamento nota: “Não temos visto barcos patrulha de Marrocos em nenhuma parte do caminho. Normalmente passamos por uns cinco ou seis.”

Entre as muitas crianças resgatadas destacava-se a bebé com menos de um ano que ficou sozinha no barco. A fotografia no diário El País mostrava-a a dormir, parecia serena, na coberta laranja, manuseada por mãos com luvas de latex. A idade era imprecisa (“alguns meses”) e tudo o resto eram números: chegou com febre (38,5 graus), dormiu sem pestanejar das 11h às 17h, tem cinco dentes, bebeu dois biberões de leite de seguida, e deixou cair quatro lágrimas (“não mais”).

Pressão em Itália e França

Na primeira metade de 2014, tentaram passar o Mediterrâneo mais de 75 mil pessoas, diz a Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR). Cerca de 800 morreram. O número é já maior do que o número total do ano de 2013.

Entre estas 75 mil pessoas estão incluídas 10.500 crianças, dois terços das quais viajaram sozinhas.

Se Espanha se alarmava com o número de migrantes, Itália contabilizava o resgate de cerca de 3400 pessoas das suas águas desde o fim-de-semana. Na sequência do desastre de Lampedusa em Outubro de 2013, com 366 mortos, as autoridades lançaram uma operação de patrulha dos mares e socorro de embarcações em perigo. Um responsável do ministério do Interior de Itália apontou que foram salvas mais de 98 mil pessoas desde o início do ano: “São pessoas que não vêm fazer turismo, mas vêm sim por desespero. Muitos continuam a morrer nas tentativas de atravessar o Mediterrâneo, apesar dos nossos esforços”, disse à agência francesa AFP.

Outra travessia potencialmente perigosa é já dentro da Europa: os imigrantes que tentam atravessar de Calais (França) para Dover, porque é mais fácil trabalhar no Reino Unido sem documentos. Nos últimos dias, em Calais, tem havido uma série de confrontos – entre a polícia e os imigrantes, entre grupos de imigrantes, entre traficantes e imigrantes. As autoridades francesas anunciaram um aumento de polícia para “lidar com a pressão migratória extremamente forte no porto de Calais”, disse o presidente da Câmara. Segundo o responsável, o número de imigrantes no local nas últimas semanas chegou a 1200, “um aumento da ordem de 50% em poucos meses”.

Sugerir correcção
Comentar