Avanço dos jihadistas ameaça campos petrolíferos do Norte do Iraque

Companhia Afren decidiu suspender a produção e outras empresas retiraram pessoal não-essencial e reforçaram as medidas de segurança.

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O diferendo entre Bagdad e o Governo Regional do Curdistão tem originado batalhas judiciais ALI AL-BAYATI/AFP

"A Afren suspendeu as operações no campo de Barda Rash como medida de precaução", avançou a empresa, anunciando ainda a retirada de todos os seus funcionários não-essenciais.

A generalidade das empresas petrolíferas a operar no Curdistão iraquiano tem sofrido fortes perdas nas bolsas de valores, à medida que crescem os receios de que os combatentes do EI consigam assumir o controlo de partes do território – algo que os Estados Unidos tentam travar com a decisão de lançar ataques aéreos direccionados a posições dos extremistas nas proximidades de Erbil, a capital do Curdistão iraquiano, onde estão sedeadas várias multinacionais.

Para além da medida mais radical da Afren de suspender a produção em Barda Rash (poucas dezenas de quilómetros a noroeste de Erbil, controlada pelos curdos, e a nordeste de Mossul, controlada pelo EI), a Genel Energy, com sede em Ancara, decidiu retirar o seu pessoal não-essencial dos campos petrolíferos de Taq Taq e Tawke, também no Curdistão iraquiano.

Para os analistas da Mirabaud Securities, citados pela agência Reuters, a suspensão da produção anunciada pela Afren "reflecte a gravidade da situação de segurança no Curdistão e os potenciais riscos para as empresas que operam na região".

Outras empresas, como as norte-americanas Chevron e Exxon Mobil ou a Gulf Keystone, anunciaram medidas semelhantes, desde a retirada de alguns funcionários ao reforço da segurança nas suas instalações.

Apesar dos evidentes receios com a segurança na região, o oleoduto controlado pelo Governo Regional do Curdistão, que chega ao Mediterrâneo através da Turquia, está nesta sexta-feira a funcionar sem restrições, avança a agência Reuters.

A produção de petróleo é um dos principais focos de tensão entre o Governo de Bagdad e as autoridades do Curdistão iraquiano, e a ameaça do Estado Islâmico está a pôr ainda mais em perigo a frágil unidade do Iraque.

Segundo a Constituição iraquiana, o Governo Regional do Curdistão tem direito a 17% das vendas de petróleo, mas as autoridades curdas dizem que esse compromisso não tem passado do papel. O objectivo dos curdos iraquianos é conquistar uma certa autonomia na exportação de petróleo, algo que não é bem visto nos Estados Unidos por poder deixar a região mais perto de uma declaração de independência.

A ofensiva dos extremistas do EI ofereceu também uma oportunidade aos curdos iraquianos para assumirem o controlo de Kirkuk, de onde parte o oleoduto para Ceyhan, no Sul da Turquia, controlado pelo Governo de Bagdad – com a fuga do Exército iraquiano na sequência dos ataques do EI, os peshmerga (paramilitares curdos) passaram a controlar pelo menos dois campos petrolíferos, de onde estão já a enviar petróleo para o seu próprio oleoduto, que entrou em funcionamento em finais do ano passado.

O diferendo entre Bagdad e o Governo Regional do Curdistão tem originado batalhas judiciais sobre a propriedade do petróleo que sai do Curdistão iraquiano – na semana passada, o petroleiro United Kalavrvta, carregado com petróleo curdo, ficou retido no Golfo do México devido a uma queixa do Governo do Iraque.

A questão do petróleo torna-se cada vez mais sensível à medida que as forças curdas se vêem no papel de liderar os combates contra o Estado Islâmico no Norte do país.

Na sequência do incidente com o petroleiro United Kalavrvta – que tinha como destino o Texas –, um dos conselheiros do Ministério dos Recursos Naturais do Governo curdo, o britânico Michael Howard, resumiu ao The Washington Post a importância da questão do petróleo na actual situação no Norte do Iraque, ao criticar a posição oficial dos Estados Unidos: "Não compreendemos por que razão o Departamento de Estado tem dito, por um lado, que precisa da ajuda deles [dos curdos iraquianos] para ajudar a salvar o Iraque, mas não lhes dá nenhum instrumento económico e obriga-os a cumprir as ordens do primeiro-ministro Nouri Al-Maliki."

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