Sanções à Rússia que não façam ricochete

As novas sanções da União procuram afectar a economia, mas de uma forma cirúrgica

Foi mais um dia sangrento na Ucrânia e só na cidade de Gorlivka, a 45 quilómetros de Donetsk, os combates entre Exército e os separatistas provocaram 17 vítimas civis. São números que infelizmente todos os dias continuam a engrossar a estatística de uma guerra que já fez mais de um milhar de mortes, milhares de feridos e um êxodo de 230 mil pessoas que procuram refúgio noutras regiões da Ucrânia ou junto dos vizinhos russos. E nem há tréguas na zona onde caiu o avião da Malaysia Airlines, impossibilitando os investigadores de confirmar aquilo de que todos suspeitam, ou seja, que o míssil que derrubou o Boeing 777 era o sistema BUK de tecnologia russa usado pelos separatistas.

A União Europeia resolveu passar das palavras aos actos, ou melhor, às sanções. Ainda não são conhecidos os pormenores, mas já se sabe que irá incluir mais nomes na lista de personalidades próximas de Vladimir Putin que ficam com os seus bens congelados e impossibilitados de viajar livremente na Europa. E fechará a torneira de financiamento à banca estatal russa.

Mas este raide à economia russa é feito com o cuidado necessário para que as sanções não venham a ter um efeito de bumerangue na frágil economia europeia. As novas medidas contra Moscovo procuram, por exemplo, travar a venda de armamento à Rússia, mas a restrição não terá efeitos retroactivos. Só assim é que a França conseguirá vender um navio de guerra que já tinha sido pago pelo Governo russo. E os entraves ao mercado energético vão afectar o petróleo, mas sem tocar no gás que é a abastecido à Europa e que, em grande parte, é transportado através de território ucraniano.

Deixando ligadas as condutas de gás, a União não estrangula a economia de Putin (e não se estrangula a si própria), mas deixa-a numa situação de grande fragilidade. Resta saber se é o suficiente para Putin se distanciar dos separatistas. E resta saber se Putin vai retaliar.
 

  



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