Festival de Toronto marca território e garante Ozon, Baumbach e Ed Zwick
Biopics e estrelas à procura de um comeback ou de uma transformação entre os primeiros filmes anunciados para o maior festival de cinema da América do Norte.
Se o festival canadiano tem nos últimos anos surripiado estreias aos seus congéneres mais importantes, tornando-se palco principal do primeiro hype para filmes que caminham depois para os Óscares, o maior festival de cinema da América do Norte sofre também com a concorrência. O último grande premiado do Festival de Toronto foi 12 Anos Escravo. O filme faria do prémio canadiano o primeiro passo numa caminhada triunfante até aos Óscares, em Março, mas não foi ali a sua estreia mundial: o filme de Steve McQueen, cobiçado pelo Festival de Veneza (onde o artista plástico tornado cineasta tinha já estreado Vergonha em 2011) acabou por se estrear no Festival de Telluride (Colorado, EUA, apenas para profissionais) e depois é que viajou para Toronto. Ainda assim, Toronto conseguiu em 2013 ser o festival que chamou a atenção para O Clube de Dallas, de Jean-Marc Vallée - que regressa este ano com Wild, com Reese Witherspoon no papel de uma ex-heroinómana e romancista que faz parte da costa Oeste dos EUA a pé.
Toronto vai ter este ano biopics como o britânico The Theory of Everything, de James Marsh, sobre o físico Stephen Hawking, ou Love & Mercy, dedicado aos Beach Boys e em particular ao seu genial centro, Brian Wilson, que será interpretado por Paul Dano. Fundado em 1976, Distinguindo-se por ter o público como o seu grande júri e pelo facto de se ter tornado uma plataforma de vendas e distribuição importante - o número de profissionais do sector no festival tem vindo a crescer (rondou os 4700 em 2013) -, há quem garanta que o Festival de Toronto “é um barómetro infalível antes da temporada de Óscares”, como escreve a agência francesa AFP, ou, como o Guardian, que os primeiros filmes apresentados são uma vitória para a organização, outros peritos, como o editor de prémios de cinema da Variety Tim Gray, consideram que “Toronto ainda é um grande factor, mas já não é o factor-chave” nas campanhas dos estúdios para a época de prémios. Se Cannes continua a ser a força máxima de apreciação crítica e artística, Toronto será, a par de Berlim, um festival feito à medida para o equilíbrio entre o mainstream e alguma caução artística. Para o comprovar estão as estrelas mais ou menos em fase de comeback ou transformação que este ano vão encher a cidade - Richard Gere (no papel de um sem-abrigo), Adam Sandler (interpreta um pai viciado em pornografia) ou Kevin Costner (o avô branco que luta pela custódia do neto com a avó negra) -, bem como as que visitam Toronto com vários filmes - Benedict Cumberbatch ou Reese Witherspoon.
Ausente de Toronto está um punhado de títulos pré-candidatos às maiores distinções do cinema - Boyhood, de Richard Linklater, foi para Sundance e Berlim, os novos de Paul Thomas Anderson e David Fincher (Inherent Vice e Gone Girl, respectivamente) estreiam-se no Festival de Nova Iorque no final de Setembro e Foxcatcher, de Bennett Miller, estará em Toronto mas já depois de se ter estreado no palco maior dos festivais, Cannes. Mas o festival tem ainda os novos de Hal Hartley - Ned Rifle -, Al Pacino - Manglehorn, de David Gordon Green, e The Humbling, de Barry Levinson, baseado no último romance de Philip Roth -, Eden de Mia Hansen-Love, Coming Home, de Zhang Yimou, ou Rosewater, do apresentador do Daily Show Jon Stewart. O evento encerra com a estreia mundial de A Little Chaos, com Kate Winslet no papel de uma paisagista que desenha parte dos jardins de Versalhes para Luís XIV, interpretado pelo também realizador Alan Rickman.