Batas brancas, rosa e laranja na greve

Uma greve meio táctica, meio política. Há razões de queixa. E algum exagero de parte a parte.

A greve dos médicos não teve a participação do Sindicato Independente dos Médicos, que entende que ainda não se tinha esgotado o espaço para negociar. Mesmo assim, a Federação Nacional dos Médicos (Fnam), que convocou o protesto, fala numa adesão de 90% a nível nacional. O Ministério da Saúde, claro está, fala numa “impossibilidade aritmética”.

A nível partidário, como é habitual, cada um veste a bata da cor que mais lhe convém politicamente. O PSD fala num protesto “fortemente politizado”, o que, podendo ser em parte verdade, é demasiado redutor face ao extenso caderno de encargos apresentado pelo sector: desde a reforma hospitalar e o encerramento serviços à falta de profissionais e materiais. Já o PS olha para o sector e exige “modernização”, ignorando os constrangimentos financeiros por que passa o país. E fala no “SNS fundado por Arnaut” como se o sistema nacional de saúde fosse o património de um partido.

O ministro da Saúde contrapõe que nunca se investiu tanto na saúde como nos últimos três anos, desvalorizando o facto de grande parte desse dinheiro não ser investimento, mas sim regularização de dívidas. Aliás, o cheque de 300 milhões que Macedo anunciou ontem é o reconhecimento de que o sector precisa de investimentos prioritários, como, por exemplo, a compra de equipamentos para o IPO de Lisboa.

Neste debate, os representantes dos sindicatos, que não se percebe muito bem se são os dirigentes da Fnam ou o bastonário da Ordem, acusam o ministério de “se furtar ao diálogo”. Uma afirmação manifestamente exagerada. Ainda ontem o presidente do Santa Maria recordava as "centenas de horas de negociação" no último ano e meio. Aliás, a negociação da carreira e das 40 horas em 2012 é a prova de que quando as partes não radicalizam o discurso é possível chegar a acordos que agradem a todos.

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