Centenas de intelectuais unem-se em manifesto de apoio a António Costa
Manifesto em defesa da Cultura é apresentado esta segunda-feira. Para as centenas de signatários, António Costa é a escolha certa para o país.
Apesar de ter sido lançado há uns dias, este manifesto que vê em António Costa a solução para o país só esta semana é que começou a ganhar força, depois de estarem reunidas já cerca de 600 assinaturas. Mais do que apoiar a candidatura do actual presidente da Câmara de Lisboa ao lugar de secretário-geral do PS, este manifesto defende que António Costa deve ser o próximo primeiro-ministro.
“É nosso dever encontrar uma alternativa política”, diz ao PÚBLICO o musicólogo Rui Vieira Nery, explicando que “este manifesto surge da constatação da política de terra queimada que tem sido levada a cabo por este Governo no âmbito da Cultura”. “Os agentes culturais estão muito preocupados com a situação actual e querem chamar a atenção para a necessidade de um projecto de política alternativa que de facto ponha Cultura no centro”, continua Vieira Nery, para quem António Costa é a resposta.
“Não digo que António José Seguro não tenha sensibilidade para o sector, mas nunca se viu num discurso dele uma presença significativa das questões culturais e da importância que elas têm”, explica o musicólogo.
Já no que a António Costa diz respeito, Vieira Nery defende que, enquanto presidente da Câmara de Lisboa, “a Cultura esteve sempre presente na primeira linha de reflexão da sua estratégia”. “Parece-me uma garantia mais segura e uma garantia sobretudo de mobilizar sectores que estão no espaço potencial do PS, mas não estão directamente envolvidos com a organização.”
No manifesto - cujo primeiro signatário é António Mega Ferreira, actual director executivo da Associação Música, Educação e Cultura, que tutela a Orquestra Metropolitana de Lisboa, seguido de Miguel Lobo Antunes, administrador da Culturgest, e José Manuel dos Santos, ex-assessor cultural de Mário Soares e Jorge Sampaio -, é defendido que, “ao longo da sua vida pública, António Costa provou ter a integridade, a inteligência, a autenticidade, o dinamismo, a convicção e a responsabilidade que o tornam uma referência para todos os que não se resignam a viver num país humilhado e acreditam que é possível restituir a dignidade a Portugal e mobilizar os portugueses para a esperança no futuro”.
“É por isso que os signatários, que exercem a sua actividade nos vários domínios da cultura, afirmam que é possível e fundamental construirmos uma alternativa política e cultural sólida – e que António Costa é o político português com melhores condições para a protagonizar”, lê-se ainda no documento, também assinado pela deputada socialista Inês de Medeiros, o realizador António Pedro Vasconcelos, o fadista Camané, o curador Delfim Sardo, a artista plástica Joana Vasconcelos, entre outros. No Facebook já foi criada uma página para o efeito.
A escritora Lídia Jorge, que já em 2009 tinha assinado um manifesto semelhante de apoio à candidatura de António Costa à Câmara de Lisboa, acredita que a forma como este “tem gerido os espaços culturais em Lisboa dá a ideia de que tem tido sensibilidade e tem compreendido que é necessário dinamizar determinadas áreas”. “Convém que, à frente do país, esteja alguém que tenha dado provas também no sector cultural, é preciso ter essa sensibilidade”, diz ao PÚBLICO a escritora, explicando que Costa “tem dado provas que é capaz de apoiar segmentos da cultura clássica mas ao mesmo também da cultura popular”. “É um trabalhador para causa pública, tem dado tantas provas disso, que no meio de tantas incógnitas eu aposto nele”, continua Lídia Jorge, para quem Costa “é capaz de dar um murro na mesa sem histeria, é suficientemente racional e equilibrado para inverter o rumo das coisas”.
Nas comparações com Seguro a escritora é mais contida, defendendo que a situação que o Partido Socialista enfrenta “é muito complicada”. “Tudo isto é muito desgostoso, mas neste caso há uma prova dada continuada ao longo de anos, eu jogo pelo mais seguro e o mais seguro não é Seguro”, brinca ainda Lídia Jorge, esperando, à semelhança de Rui Vieira Nery que, com a vitória de António Costa, o sector cultural seja encarado de outra forma. “O sector cultural é um pulmão do corpo social, é o motor fundamental de uma sociedade autónoma", defende.
Rui Vieira Nery destaca ainda a capacidade que António Costa tem de "mobilizar pessoas que normalmente não estariam em diálogo umas com as outras". "Essa é uma experiência que tenho pessoalmente de trabalho com ele em várias iniciativas, como aconteceu por exemplo na candidatura do Fado a Património Mundial da UNESCO: António Costa foi um factor de unidade muito importante e um apoio fundamental", destaca o musicólogo.