Obama envia 275 soldados para proteger os seus funcionários no Iraque

Obama esteve reunido com assessores mas decisão sobre apoio a Bagdad terá em conta garantias oferecidas por Maliki.

Foto
Protesto frente à Casa Branca contra possível intervenção militar no Iraque Nicholas Kamm/Reuters

A Casa Branca informou na segunda-feira à tarde o Congresso da partida dos 275 militares, dos quais 170 já terão chegado entretanto a Bagdad. “Os militares entram no Iraque com o consentimento do Governo iraquiano”, adianta uma nota da presidência, adiantando que a primeira tarefa da equipa será apoiar a transferência de parte dos funcionários da embaixada de Bagdad para os consulados de Erbil (no Curdistão iraquiano) e em Bassorá, a grande cidade do Sul.

A transferência para zonas mais distantes dos combates indicia a preocupação norte-americana com a eventualidade de a guerra chegar a Bagdad, num momento em que há já notícias de combates em Baquba, capital da província de Diyala. A Casa Branca sublinha, porém, que “a embaixada americana continua aberta e uma maioria substancial da presença diplomática norte-americana no Iraque continua ali”. Apesar de se tratar de uma missão de protecção, os soldados vão “equipados para combates directos”. Cem soldados deste grupo inicial vão ficar em alerta num país vizinho – previsivelmente o Kuwait – podendo ser chamados caso a situação se agrave.

A partida dos militares – o primeiro reforço ao contingente que garante a protecção consular desde a conclusão da retirada norte-americana, no final de 2011 – foi anunciada ainda antes de Obama se reunir, na noite passada, com a sua equipa de segurança nacional para discutir as opções de intervenção no Iraque. A Casa Branca foi lacónica a anunciar que as consultas “vão continuar nos próximos dias” e fontes citadas pela agência Reuters confirmam que nenhuma decisão foi ainda tomada.

Envio de forças especiais
No entanto, três responsáveis norte-americanos adiantaram à AP que o Presidente está a ponderar o envio de um pequeno contingente de forças especiais, com o objectivo de treinar e aconselhar o Exército iraquiano, muito desmoralizado depois de ter abandonado, quase sem resistência, as várias cidades ocupadas pelo Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS). Segundo as mesmas fontes, esta equipa ficaria sob autoridade do embaixador norte-americano em Bagdad e não teria autorização para se envolver directamente nos combates – Obama assegurou na semana passada que os EUA “não vão enviar soldados para combater de novo no Iraque”.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, admitiu também que em cima da mesa está a hipótese de ataques aéreos contra os jihadistas, usando os drones que os EUA têm na região. Obama tem já também nas imediações do Golfo Pérsico um porta-aviões, mas responsáveis militares ouvidos pelo Washington Post explicaram que apesar dos meios existentes a opção de atacar os rebeldes pelo ar comporta riscos e complicações. Por um lado, os drones só poderão ser usados mediante a autorização dos países árabes, onde se situam as bases americanas, e estes têm-se mostrado muito críticos do Governo iraquiano. Por outro, os ataques aéreos poderão revelar-se muito sensíveis se os rebeldes, depois dos avanços iniciais em direcção a Bagdad, optarem por entrincheirar-se nas cidades já conquistadas. “Militarmente, podemos fazer quase tudo o que quisermos. A questão é, com que objectivo?”.

Esta é também a preocupação de Obama que, desde o início da crise, tem apontado o dedo às políticas sectárias do primeiro-ministro iraquiano, o xiita Nouri al-Maliki, consideradas por Washington como uma das causas para a revolta sunita que o ISIS acabaria por aproveitar. Citando fontes da Casa Branca, a Reuters adianta que Obama tem pressionado Maliki a emendar a mão, apesar de não ter ainda definido que políticas concretas vai exigir a Bagdad em troca do auxílio no combate ao ISIS.

Mas apesar da pressão, Maliki não dá sinais de querer a reconciliação e comporta-se mais como um comandante em chefe do que um primeiro-ministro preocupado em assegurar a unidade do país. “Agora é tempo de guerra, não de reconciliação”, afirmou ao New York Times Amir al-Khuzai, assessor e colaborador de longa data do líder xiita. “Vamos trabalhar para expurgar o Iraque dos traidores, dos políticos e militares que cumprem as suas ordens”, afirmou o primeiro-ministro num discurso perante voluntários xiitas mobilizados para combater o ISIS.

Sugerir correcção
Comentar