Padres casados querem participar no sínodo sobre a Família
A associação portuguesa Fraternitas, que congrega padres que renunciaram ao sacerdócio para casar, está a preparar carta para enviar ao papa.
Serafim Sousa, 66 anos, que integra a primeira vaga de padres a pedir a dispensa do sacerdócio para poder casar pela Igreja Católica, explicou à Lusa que a associação está a preparar uma carta para enviar ao papa Francisco com esse pedido.
"Gostaríamos que os casais sacerdotais, que são activos, vivem a sua fé em Deus e têm conhecimento das necessidades mais prementes da sociedade, pudessem estar presentes nesse sínodo", referem os padres na versão preliminar da carta a que a agência Lusa teve acesso.
A missiva deverá ainda ser aprovada em assembleia da Associação Fraternitas, que congrega padres que renunciaram ao sacerdócio para casar.
Na carta, os padres expressam também a sua oposição ao casamento obrigatório dos padres, que consideram "uma aberração antinatural".
"O que queremos dizer ao Santo Padre é que somos filhos de Deus e merecemos ser bem tratados e não ostracizados ou marginalizados, como nos têm feito", disse Serafim Sousa, mostrando-se convicto que haverá uma resposta do papa Francisco à carta.
"Quando [o papa] disse que o celibato dos padres não era um dogma e que as portas estavam abertas deu a entender que este problema ia ser resolvido e vai ser resolvido", considerou Serafim Sousa.
"Tem que ser resolvido, porque os sacerdotes novos saem de costas voltadas para a Igreja - não pedem sequer dispensa do exercício das ordens -, casam civilmente e muitas vezes andam por aí aflitos para arranjar trabalho e com dificuldades", acrescentou.
Recentemente, no regresso da sua viagem à Terra Santa, o papa Francisco afirmou que o celibato dos padres "não é um dogma de fé", e que o tema "está sempre em aberto", embora tenha afirmado não se tratar de uma prioridade imediata.
A associação Fraternitas estima que existam em Portugal mais de 400 padres que pediram a renúncia do sacerdócio, para casar pela Igreja Católica, e manifesta preocupação com a actual tendência de abandono repentino e de corte definitivo com a Igreja, de alguns padres.
O papa Francisco convocou para 05 a 19 de Outubro um sínodo mundial de bispos, para debater e analisar as questões relacionadas com a família.
O sínodo terá por base os resultados do inquérito que o pontífice promoveu junto das dioceses de todo o mundo, e que incluía perguntas sobre assuntos delicados para a Igreja Católica, como os casais divorciados que voltam a casar ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.