Lisboa prepara-se para os dias do manjerico e da sardinha
Festas de Lisboa iniciam-se no último dia de Maio e vão até 3 de Julho, com actividades pela cidade inteira.
A celebração da abertura das festas é no Rossio, às 22h de 30 de Maio, e chama-se “O último sonho do grande aventureiro Fernão Mendes Pinto”, e promete ser um espectáculo de som, luz e balões. Protagonizado pela troupe francesa de teatro de rua “Plasticiens Volants”, conta com os ritmos Africanos de Bambaram, o coro Molihua e o fado de Gisela João. O espectáculo parte de Portugal e segue o célebre navegador pelas suas viagens em África e na Ásia, antes de se dirigir numa última viagem para a rua. “Fernão Mendes Pinto foi uma figura do Humanismo e do Renascimento, que colocava o homem no centro de tudo, e é isso que estamos a tentar renovar, esse valor humanista numa sociedade que se parece ter esquecido dos outros”, diz Renzo Barsotti, director do Centro de Criação para Teatro e Artes de Rua sobre o espectáculo de uma hora em que não haverá barreiras entre artistas e público.
Para além das várias actividades previstas, o eixo central das festas continua a ser as marchas populares. Dia 12 de Junho, pela Avenida da Liberdade será possível vê-las passar a partir das 21h. De 6 a 8 de Junho também haverá Marchas na Meo Arena, mas o espectáculo a começar às 21h30 tem entrada paga, ao contrário do da Av. Da Liberdade. O programa pode ser consultado em http://www.festasdelisboa.com/2014/.
Para Miguel Honrado, presidente do EGEAC, “as festas procuram ser sempre uma programação que dá livre curso à tradição popular da cidade e providenciam a dinâmica cultural de uma urbe contemporânea”.
É vivinha da costa!
Se há coisa que não pode faltar nas Festas de Lisboa, para além da animação, é a sardinha. Assada, a sardinha tornou-se um símbolo das festas populares da cidade e este ano o EGEAC fez dela uma marca. Produtos de merchandising baseados no peixe favorito da época foram feitos em parceria com a Artware e a fábrica Bordalo Pinheiro. Há também uma parceria com a Teletáxis, e os táxis pintados com sardinhas estão preparados para levar a festa pelas ruas de Lisboa.
O concurso de sardinhas da EGEAC tem também vindo a crescer, tendo as candidaturas duplicado de número desde a edição do ano passado – em 2014 foram contadas mais de oito mil entradas, vindas de 53 países, em contraste com as 6000 de 2013.
Para os cinco vencedores com quem o PÚBLICO falou, a honra não podia ter sido maior – houve até quem pensasse que o telefonema a anunciá-los como vencedores era uma partida de mau gosto. Mas o amor pela cidade permitiu que estes jovens artistas conseguissem responder à pergunta “Que sardinha és tu?” baseando-se em experiências passadas e vivências de outros com quem interagem diariamente, criando uma sardinha que vai desde os locais mais escondidos de Lisboa à tradição nacional, gastronómica ou publicitária.
Para além dos sete vencedores do concurso do EGEAC, houve também um oitavo prémio – a sardinha de azeite de Ana Grave Baga, do Baga Estúdios, que foi seleccionada para a edição especial de sardinhas em conserva da La Gondola, uma conserveira nacional. Sediada em Matosinhos, a empresa associou-se à EGEAC e à câmara de Lisboa para criar uma linha especial de latas de sardinha baseada em desenhos deste ano e de anteriores.
O caso da mala
E ainda vai haver o caso da mala. Ao perguntarmos a Nuno Paulino, o seu criador, de que se trata, este, sorrindo, responde apenas: “Uma mala”.
Mas a mala é muito mais do que isso - é um espaço comum e portátil entre a arte e a partilha comunitária, um “desabafo clandestino”. Vai permitir aos utilizadores partilhar o que quiserem, de fotografias a confissões, desde que caiba na ranhura, porque a mala só se irá abrir no final das festas para revelar o que os utilizadores dos transportes públicos de Lisboa têm a dizer.
“O objectivo foi criar uma rede colectiva de autores em torno de um objecto”, diz Paulino sobre o projecto que ganhou o concurso Andar em Festa organizado pelos transportes públicos de Lisboa.
Para o sócio do Artelier? a experiência pretende reviver a cidade antiga. A mala é uma crítica à sociedade pressionada e pretende criar um divã social que funcione como um espelho onde podemos partilhar e devolver a imagem.
“Temos 40 malas. Será coincidência ter 40 malas este ano?” pergunta Paulino com o mesmo sorriso. Nas quatra décadas do 25 de Abril, estas estarão à disposição de todos nas estações de comboio de Lisboa, para que todos se expressem livremente.
A mala é verde alfacinha, numa homenagem aos habitantes de Lisboa, que são convidados a participar na iniciativa como queiram – e a ir ao jantar das transportadores no dia 2 de Junho para descobrir o que lá está dentro.
Aos utilizadores, pede-se apenas que, se encontrarem a mala, leiam as instruções, e depois a passem a alguém. O espaço artístico portátil promete passar por toda a cidade através dos transportes para que todos possam conversar com a mala, que quer ser íntima de toda a gente e criar momentos únicos, afirma o seu criador.
Texto editado por Ana Fernandes