Acusado de "amor eterno" ao bloco central, Assis atira aliança com o PSD para depois das legislativas

"Saída limpa" não significa nada para Francisco Assis e representa momento "encorajador" para Paulo Rangel. João Ferreira volta a acenar com saída do euro e Marisa Matias aponta baterias à "austeridade fofinha" do PS.

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Debate para as europeias esta quarta-feira entre Francisco Assis (PS), Paulo Rangel (PSD/CDS), João Ferreira (CDU) e Marisa Matias (BE) Daniel Rocha

Anfitrião de mais um dos "Animados Almoços Ânimo", o ex-assessor do PS António Colaço mediou o diálogo entre os três actuais eurodeputados e a espera de uma hora e meia por Assis, o cabeça de lista socialista que, assim que chegou, "conseguiu dar conta do bacalhau”. Vasco Lourenço abriu então o debate a quatro para as europeias a lembrar que estamos todos obrigados a pensar que Europa queremos ter. Com uma expectativa já definida para si: que as eleições sejam ”um cartão vermelho” ao Governo.

Paulo Rangel, candidato do PSD/CDS, que quer ser uma espécie de mensageiro da “esperança” e do “realismo” nestas eleições, estava em terreno mais difícil do que os interlocutores. A bloquista Marisa Matias e o comunista João Ferreira gozavam ali, na Associação 25 de Abril, de uma espécie de velha simpatia dos cerca de 85 comensais presentes.

Marisa, que se sentia “como se estivesse em casa”, foi a primeira a pegar no microfone. Antes das críticas às “juras de amor eterno” que faria mais tarde a Assis e Rangel, levantou-se para dizer que "em democracia há sempre alternativas". Nestas eleições, explicou, a escolha é entre pessoas e emprego, em oposição à austeridade e à “obsessão” pelos mercados. Os mercados foram os “únicos que saíram limpos” depois da troika, disse a eurodeputada, que não poupou Assis e a “austeridade fofinha” do PS.

A sala fez então uma espécie de silêncio pouco contido para ouvir o social-democrata. Rangel lembrou a bancarrota de 2011 para contrapor com um momento actual “muito mais encorajador”. Depois de “dois ou três anos muito duros”, o país respira agora “reputação e crédito nos mercados”.

Do lado oposto, da mesa do almoço e da análise da situação do país, o cabeça de lista da CDU criticava uma “década perdida” para Portugal e pedia explicações aos que defendem a manutenção do país no euro. E deixava soluções: recuperar sectores estratégicos, devolver salários e pensões, preparar o país para recuperar a soberania monetária. “Retóricas" e “utopias”, responderia várias vezes Rangel a João Ferreira, mas também a Francisco Assis.

Na sua vez, o socialista revisitou a história do projecto europeu e os quarenta anos de democracia para defender que esta se faz “de conflito e de diferença”, mas também de “compromissos e procura de algumas convergências”. Com uma conclusão: “Temos o Governo mais extremista e mais à direita da nossa democracia”. E também uma certeza, a de que a “saída limpa” não é “nada significativa” quando “a troika sai mas fica um Governo que executa as políticas da troika”.

À pergunta sobre alianças feita por um dos presentes para as legislativas do ano que vem, Assis diz que este não é o momento. “Vamos esperar pelo resultado das eleições”, responde. Mas, julga, "essa questão deve ser discutida sem qualquer tabu", até porque há "outro PSD" diferente do que governa. A sala ri-se de mal-estar.

O socialista prossegue com a promessa de “esforço” para “construir novas maiorias”. E dá o mote ao contra-ataque de Marisa Matias: “Não há ninguém mais comprometido com as políticas do bloco central do que o candidato do PS”. Mais tarde, Assis riposta com um elogio e afirma que ficou “muito bem impressionado” com a prestação da candidata do BE.

Mas as perguntas também incomodaram CDU e Bloco. Tão semelhantes, afirmam os convivas, mas em partidos diferentes. João Ferreira acena com a saída do euro. Marisa Matias diz que não é eurocéptica, mas também não é “euro-tonta”. Assis e Rangel saem apressados do debate a quatro para um duelo na Faculdade de Direito, em Lisboa, na mesma tarde.
 

   

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