Novas esculturas monumentais de Richard Serra no deserto do Qatar
Só se chega lá de GPS, mas vale a pena, diz quem já viu as novas esculturas do artista, reveladas esta quarta-feira, algures, no deserto.
É que as monumentais esculturas do artista encontram-se algures no deserto, na península de Zekreet, no meio de antigos vestígios arqueológicos, a uns 65 quilómetros de Doha, capital do Qatar.
Mas o trajecto de cerca de uma hora de carro, a partir da capital do Qatar, vale mesmo a pena contam as primeiras testemunhas que viram a instalação que inaugurou esta quarta-feira. O artista de 74 anos, segundo o diário inglês The Independent, afirma que “é a coisa mais gratificante que já fez”, embora subsista a dúvida se as peças serão vistas por muita gente, pela sua peculiar localização.
São quatro torres de aço, com cerca de 15 metros de altura, que trazem uma nova silhueta à paisagem. A instalação chama-se East-West/West-East, e foi uma encomenda da irmã do emir do Qatar, a xeque Al Mayassa Hamad bin al-Thani que, com 30 anos, preside à Autoridade dos Museus do Qatar, responsável, por sua vez, pelos museus de Arte Islâmica e também de Arte Moderna.
“Quando estive aqui pela primeira vez – quando estavam a construir o Museu Islâmico – a xeque Al-Mayassa perguntou-me se queria criar uma obra na paisagem e eu interroguei-a: ‘mas que paisagem?’ E ela: ‘o deserto.’ Para ser sincero não sabia que o deserto aqui estava em todo o lado” relatou Serra. “As placas conectam os mares situados entre o leste e o oeste da paisagem”, disse o artista, conhecido pelas obras em metal, aço e chumbo.
O preço da instalação não foi revelado, mas os trabalhos monumentais de Serra têm custos muito elevados e são poucas as instituições públicas que se atrevem a fazer-lhe encomendas. A intervenção no Qatar é uma situação de excepção e o artista tem consciência disso, referindo que teve liberdade, e orçamento, para fazer o que realmente queria. “É uma situação muito rara. É tudo aquilo que um artista pode desejar”, disse a esse propósito.
A proposta da Autoridade do Museu do Qatar coincide com a primeira exposição do artista no Médio Oriente – com efeito uma retrospectiva da sua obra pode ser vista, até 6 de Junho, na galeria QMA em Doha, havendo ainda uma obra nova – Passage of Time – para ser vista no espaço Al Riwaq. As duas exposições têm como comissário Alfred Pacquement, anterior director do Pompidou em Paris.
O ano passado a xeque Al-Mayassa, na sua tentativa de levar a arte contemporânea ao público do Qatar e do Médio Oriente, havia encomendado ao artista britânico Damien Hirst o projecto The Miracle Journey, uma instalação de 14 esculturas monumentais de bronze, representando diferentes estádios do desenvolvimento humano. O Qatar, com 1,7 milhões de habitantes e o PIB per capita mais alto do mundo (segundo a Forbes), terá pago 15 milhões de euros pela produção das esculturas, que, no seu conjunto, pesam 216 toneladas.