Kiev ordena retirada de todas as suas tropas da Crimeia
Ministro da Defesa russo está na península para inspeccionar todas as instalações militares.
Muitos ucranianos recusaram render-se, mas não ofereceram resistência armada. Alguns estão detidos. “O conselho de ministros deu instruções para que as famílias dos soldados sejam reagrupadas, assim como todas as pessoas que estão a ser forçadas a deixar as suas casas sob pressão e agressões das forças de ocupação russas”, disse o Presidente ucraniano interino, Olexander Martinenko.
É uma declaração de derrota, embora oficialmente não seja assim apresentada. Poucos depois de Martinenko ter falado, chegava à Crimeia o ministro da Defesa russo, Serguei Choigou, para uma inspecção à Frota do Mar Negro, estacionada no porto de Sebastopol, na Crimeia, ao abrigo de um acordo com Kiev que permitia aos russos ali manterem 25 mil tropas.
Choigou aproveitou a visita para nomear como comandante adjunto da frota Denis Berezovski, o homem que os ucranianos escolheram a 1 de Março para liderar a sua Marinha e que viram, um dia depois, entregar a base ucraniana em Sebastopol a forças pró-russas. O importante nesta fase, defendeu Choigou, é evitar “vazios de poder”. O primeiro responsável russo a visitar a Crimeia depois da anexação, a semana passada, inspeccionou ainda outras bases, ucranianas até há poucos dias.
A esmagadora maioria das instalações militares na região já foi esvaziada de ucranianos – um responsável do Ministério da Defesa de Kiev disse à BBC que a bandeira ucraniana só se mantinha em dois navios e numa base da polícia. Isso foi antes de uma lancha russa ter tomado um navio ucraniano no lago de Donuzlav.
Entre sábado e a madrugada de segunda-feira, três bases foram capturadas à força pelos russos – ao contrário do que aconteceu na maioria das instalações militares, nestas últimas os ucranianos ignoraram os ultimatos e os russos entraram de armas em punho, apoiados por blindados e helicópteros.
O Ministério Ucraniano da Defesa diz que 60 a 80 fuzileiros foram detidos na ocupação da base de Feodossia e o comandante da base de Belbek também está em parte incerta. Há soldados que recusam abandonar os seus postos até que os seus comandantes sejam libertados. Kiev diz que as chefias militares russas no terreno exigem “a saída de todos os oficiais ucranianos da Crimeia” para libertarem os militares detidos.
Moscovo defende que a sua anexação da Crimeia é legítima, já que num referendo realizado há duas semanas a maioria dos habitantes escolheu abandonar a Ucrânia e integrar a Federação Russa. A consulta não foi reconhecida nem pelos novos líderes de Kiev – que tomaram o poder depois da deposição de Viktor Ianukovich, após três meses de protestos –, nem pelos líderes ocidentais.
Na península de maioria russófona, agora é a minoria tártara que admite realizar uma consulta. Segundo o líder tártaro Mustafa Djemilev, a comunidade tem de discutir “formas de coexistência” possíveis na nova realidade. Até agora, de uma comunidade de 300 mil pessoas, 5000 já abandonaram a região nos últimos dias, diz Djemilev. As decisões dos que ficam sobre o seu futuro vão depender da atitude de Kiev, explicou Djemilev à AFP. “Vamos decidir as nossas acções com as autoridades ucranianas. Mas se as autoridades nos abandonam…”
Fazer a Rússia pagar
Na frente internacional, o Presidente dos EUA, Barack Obama, prometeu uma acção unida do Ocidente contra Moscovo como represália pela anexação da Crimeia, antes do início de uma cimeira do G7, à margem da uma cimeira sobre segurança nuclear que decorre em Haia.
“A Europa e os Estados Unidos estão unidos para apoiar o Governo ucraniano e os ucranianos, estamos unidos para fazer a Rússia pagar o preço pelas acções que já levou a cabo até agora”, disse Obama. Em cima da mesa está a possibilidade da expulsão definitiva da Rússia do grupo dos países mais ricos do mundo, ou seja, o fim do G8, ficando apenas o G7 (EUA, Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália e o Japão), em cujas cimeiras participa também a União Europeia.