“Vamos eleger o Governo por democracia directa, como em Esparta”

Andrei Parubi, o líder “de facto” da revolução ucraniana, revela em declarações ao PÚBLICO que durante o dia serão escolhidos os novos ministros na Praça da Independência.

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O edifício do Parlamento está cercado pelas unidades de autodefesa da Somooborona David Mdzinarishvili/Reuters

“Quem quiser pode lançar nomes, de pessoas que conheça, personalidades prestigiadas e sem ligações à política, como reitores de universidades. A cada nome, o povo vai votar de braço no ar, ou aplaudir e gritar. Os nomes que obtiverem mais gritos serão os eleitos”, explicou Parubi. O processo ocupará todo o dia de hoje. Da parte da manhã, reunir-se-ão as 40 unidades de autodefesa, os chamados "Sotnia", que incluem todos os participantes nos combates. São, segundo Parubi, cerca de 5 mil pessoas, organizadas por especialidades, desde comunicação e design até acção militar directa ou patrulha de ruas. Alguns Sotnia foram agrupados por afinidades ideológicas, como é o caso dos extremistas de direita Sector Direito. Outros por características de estilo e tradição, como os Cossacos.

As ideias destas reuniões serão levadas depois, às duas horas da tarde, à reunião do Conselho de Maidan, que inclui, além dos representantes dos Sotnia, personalidades relevantes da sociedade civil. É aí que serão criadas as propostas que depois, às sete horas, serão levadas ao palco, onde os presentes poderão ainda propor outros nomes.

“Não consigo explicar-lhe o que vai acontecer”, confessou Parubi. “É impossível prever, ou imaginar. É uma experiência que nunca se fez. E, claro, comporta muitos riscos. Pode acontecer que às sete horas 30 mil pessoas estarão aqui aclamando um governo, e, horas depois, outras 30 mil virão aqui derrubá-lo”.

Só depois de o Governo ter sido aprovado no palco da Maidan será levado ao Parlamento para aprovação. Mas a hipótese de a câmara dos deputados reprovar a lista dos novos ministros não se coloca. Neste momento, o Parlamento obedece cegamente à Maidan, seja, como sugere Parubi, porque está em sintonia com os seus ideais, seja por puro medo.

“Os deputados ficaram muito assustados com o que aconteceu”, diz Parubi. “Perceberam que tinham mesmo de mudar o sistema. Se não cooperarem, ficarão para trás. E sabem que Maidan não vai parar até ter obtido tudo o que quer. Por isso os deputados estão a aceitar fazer todas as mudanças necessárias às leis.”

O edifício do Parlamento está cercado pelas unidades de autodefesa da Somooborona, designadamente as mais radicais, a quem são distribuídas as missões mais difíceis, que exigem bons armamento e treino militar. Há dois dias, como o Parlamento hesitasse em aprovar uma lei libertando os alegados presos políticos inscritos numa lista apresentada pelo Sector Direito, o Sotnia armado deste grupo extremista entrou no hemiciclo e não parou de partir os candelabros até que os trabalhos se aceleraram e a lei foi aprovada. “Maidan decide para onde vai a revolução”, disse Andrei Parubi.

Ele próprio, como líder de Maidan, deverá vir a assumir um lugar no Governo. Já lhe ofereceram a pasta do Interior, mas recusou. “Eu não quero assumir nenhum cargo político. Mas, por outro lado, também não posso fugir à minha responsabilidade, uma vez que as pessoas confiam em mim como garante da causa da revolução.” Ponderando estes constrangimentos, Parubi deverá ser vice-ministro do Interior do novo executivo.

Andrei Parubi é deputado pelo partido Pátria, chefiado por Iulia Timochenko, agora libertada da prisão. Mas diz ter cancelado toda a sua actividade partidária nos últimos três meses, desde que assumiu a liderança do movimento de Maidan. Desde o início dos protestos, foi ele que organizou os grupos armados, lhes proporcionou treino, lhes criou uma hierarquia de tipo militar, baseada na tradição guerreira dos antigos Cossacos. O processo decisório da Samooborona é, dizem eles, a democracia directa, mas ninguém contesta que no topo da hierarquia, emitindo as ordens que todos cumprem, está Parubi.

Às 19h, 17h em Portugal, o palco vai formar um governo. E ninguém acha estranho em Maidan que esteja marcado um concerto musical para a mesma hora. Tudo pode ocorrer em simultâneo. E também não parece provável que, na ocasião, os padres ortodoxos da Igreja Ucraniana desçam do palco, de onde praticamente nunca saíram desde que começou a revolução.

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