Manifestantes anti-russos invadem parlamento regional da Crimeia

Moscovo anuncia grande exercício militar na fronteira com a Ucrânia.

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Manifestação de tártaros junto ao parlamento em Simferopol REUTERS

A capital regional, Simferopol, viveu nesta quarta-feira confrontos entre manifestantes pró-russos e outros que defendem a transição de poder. A maioria destes últimos são tártaros, um povo com origem na Ásia Central e de religião muçulmana. Vivem na Crimeia há séculos, mas uma parte importante foi para lá deportada por Estaline – por isso têm fortes ressentimentos anti-Moscovo. Representam hoje cerca de 12% da população da Crimeia.

Numa batalha campal com pedras, garrafas e paus, com cerca de 10 mil pessoas do lado pró-Kiev e 5000 do lado pró-russo, os tártaros acabaram a gritar Allah-u-akbar (Alá é grande!”) e “A Ucrânia não é a Rússia!”

Os manifestantes pró-russos, alguns deles cossacos com os característicos barretes altos de lã, gritavam Berkut, o nome da temida polícia de intervenção que foi extinta nesta quarta-feira pelo novo ministro do Interior, Arsen Avakov.

Pelo menos uma pessoa morreu nos confrontos, aparentemente de ataque de coração. Há notícia de duas dezenas de feridos.

A Crimeia é a única região da Ucrânia em que a maioria da população tem origem russa e desde a deposição do Presidente Victor Ianukovich que tem acenado com a ameaça de separatismo. Mas a Rússia tem publicamente defendido a manutenção da integridade territorial do país.

O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, fez apelos à calma para Moscovo: "Os EUA e a Rússia não precisam de se ennvolver num confronto da Guerra Fria por causa da Ucrânia", afirmou, numa entrevista na NBC. "Todos os países devem respeitar a integridade territorial, a soberania da Ucrânia. A Rússia prometeu que o faria e pensámos que é importante que o faça."

No entanto, Moscovo anunciou nesta quarta-feira o início de um grande exercício militar junto à fronteira, que envolve a maioria das unidades militares da Rússia central e Ocidental, segundo anunciou na televisão o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, diz a Associated Press.

É na Ucrânia, em Sebastopol, que está estacionada a frota russa do Mar Negro. O aluguer da base foi prolongado até 2042 – e o acesso às instalações foi esta quarta-feira vedado com uma barreira de cimento. O ministro da Defesa russo afirmou que o exercício anunciado de surpresa “serve para testar o estado de prontidão das tropas em situações de crise que ameacem a segurança militar da nação”, sem mencionar a Ucrânia.

Desde sábado, quando a oposição assumiu o poder, que na Crimeia o movimento secessionista pró-russo que ali existia começou a movimentar-se com grande energia.

O Bloco Russo, um grupo radical que milita pelo retorno da Crimeia à Rússia, começou a formar uma milícia alegadamente de defesa dos cerca de 60% dos dois milhões de habitantes desta península que são etnicamente russos. É a imagem em negativo das milícias formadas em Kiev para defender os manifestantes da Praça da Independência, relata o Le Monde. “Kiev foi tomada por grupos fascistas, homens com armas que já chegaram a Karkov e a Donetsk, e que viriam para aqui se não fizermos nada”, disse ao repórter do jornal francês Guennadi Bassov, líder do Russki Bloc.

Em Sebastopol, foi eleito um eleito um novo presidente da câmara, de braço no ar. Só que Alexei Tchali é na verdade um cidadão russo, um empresário com residência em Moscovo, nota o Moscow Times. Vêem-se também por lá muitos “lobos cinzentos”, os motoqueiros russos com quem Vladimir Putin não se importa de ser associado.


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