Paz armada nas ruas de Kiev à espera do próximo passo de Ianukovich

Amnistia acalmou os protestos na capital ucraniana, mas a desconfiança ainda reina entre a oposição. Presidente joga cartada importante na nomeação do próximo Governo.

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Algumas ruas ocupadas pelos manifestantes foram limpas e reabertas ao trânsito Konstantin Chernichkin/Reuters

A exemplo do edifício da câmara municipal de Kiev, também outras sedes regionais foram evacuadas na segunda-feira. No entanto, há edifícios que se mantêm ocupados, como a Casa dos Sindicatos ou a Casa Ucraniana.

Para além disso, os próprios líderes da oposição convocaram uma manifestação para a manhã de terça-feira, que vai coincidir com a sessão parlamentar em que se vai debater uma revisão constitucional. Uma das principais reivindicações dos manifestantes é o retorno à Constituição de 2004, o que implica uma perda dos poderes do Presidente.

É improvável, contudo, que haja abertura por parte dos deputados do Partido das Regiões, do Presidente, Viktor Ianukovich, para aprovar essa alteração. Ianukovich já mostrou preferência pela via das emendas constitucionais e que o processo passe pela formação de uma comissão parlamentar.

“Têm-nos dito que esta Constituição só pode ser composta em Setembro. Mas estamos numa situação crítica em que as pessoas pedem para ser ouvidas imediatamente”, afirmou o líder do partido da oposição UDAR, Vitali Klitschko.

Num encontro entre os líderes da oposição - Klitschko e Arseni Iatseniuk, líder do Pátria - e a chanceler alemã, Angela Merkel, nesta segunda-feira foi abordada a possibilidade de aplicação de sanções aos dirigentes próximos de Ianukovich. Outro dos pontos discutidos foi a criação de "um programa positivo para o povo ucraniano", que deverá passar por uma componente de ajuda financeira e a supressão do regime de vistos para deslocações na Europa.

Novo governo esta semana

A nomeação de um novo governo terá de ser feita rapidamente. O presidente da Rada Suprema (Parlamento), Volodimir Ribak, afirmou à Interfax-Ucrânia que espera que Ianukovich anuncie a sua decisão esta semana que tem de ser debatida pelo Parlamento nos cinco dias seguintes.

O nome que Ianukovich propuser para substituir Mikola Azarov, que se demitiu a 28 de Janeiro, será fulcral para o desenrolar da crise política e económica no país. Os líderes da oposição já se mostraram indisponíveis para integrar um governo no contexto actual – argumentam que o executivo não tem poderes efectivos e que serve apenas para ratificar as decisões do Presidente.

Ianukovich tem dois caminhos: a nomeação de uma personalidade de fora do seu Partido das Regiões e que seja consensual entre os dois campos; ou a nomeação de alguém mais próximo do seu círculo e conotado com a linha mais dura.

Num momento em que a economia ucraniana atravessa uma fase crítica, a Rússia suspendeu a linha de crédito estabelecida em Novembro superior a 11 mil milhões de euros. Esta segunda-feira, o ministro das Finanças russo anunciou, segundo algumas agências, que a segunda tranche do acordo (cerca de 1,5 mil milhões de euros) será paga "esta semana", não fazendo qualquer referência a questões de ordem política. Depois da queda do Governo ucraniano, Moscovo havia feito depender a retoma do acordo da formação de um novo executivo.

Com bastantes reservas, os dois nomes mais referidos personificam os cenários com que Ianukovich se depara. Petro Poroshenko foi referido por um especialista logo na altura da demissão de Azarov como o “candidato que melhor serve a oposição”. Trata-se de um deputado independente conhecido pelas suas posições pró-europeias, apesar de não integrar nenhum dos partidos da oposição. É o sexto homem mais rico da Ucrânia e, segundo a Forbes, tem uma fortuna avaliada em mais 1,1 mil milhões de euros.

Mais recentemente, a Reuters avançava o nome de Andrei Kliuev, actual chefe da Administração Presidencial, e identificado com a forte repressão policial dos últimos meses.

Se a nomeação de um homem próximo de Ianukovich, e de Moscovo, significa o reatar da linha de crédito russa, por outro lado, tornaria mais difícil um consenso político com a oposição e levaria muito provavelmente a uma nova radicalização das ruas.

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