ONU exige ao Vaticano que todos os padres pedófilos sejam entregues à Justiça
Santa Sé já reagiu, sublinhando que o relatório "deturpa" os factos mas que, ainda assim, vai analisar "com atenção" as conclusões e recomendações do documento das Nações Unidas.
Mais, é recomendado que a comissão criada no ano passado pelo Papa Francisco para investigar estes crimes avalie também, com precisão, a forma com a hierarquia da Igreja Católica lidou com os casos.
O Vaticano já reagiu ao relatório. "A Santa Sé toma nota das observações finais" do Comité e vai analisá-las "com atenção". "A Santa Sé reitera o seu compromisso na defesa e na protecção dos direitos das crianças, em acordo com os princípios da Convenção dos Direitos das Crianças e com os valores morais e religiosos da doctrina católica".
Num comunicado, o Vaticano diz estar "profundamente preocupado quanto aos abusos sexuais de crianças por parte de membros da Igreja Católica sob a autoridade da Santa Sé". Mas depois, em declarações à Rádio Vaticano, Silvano Tomasi, observador da Santa Sé junto da ONU em Genebra, acusou as Nações Unidas de "deturpar os factos".
O grande objectivo deste relatório é perceber a verdade, identificar as vítimas e encontrar formas de recompensá-las, e às suas famílias, pelo que passaram. A ONU diz que as vítimas têm que ser ouvidas. "Os casos devem ser tratados pelas autoridades de cada país para que a privacidade das crianças não seja comprometida", disse a porta-voz da ONU que apresentou o documento.
“O Comité está preocupado com o facto de a Santa Sé não reconhecer a extensão dos crimes cometidos, que não tenha dado os passos necessários para proteger as crianças e que tenha adoptado um comportamento e tomado decisões que levaram à continuação dos abusos e à impunidade dos predadores”, diz o documento apresentado em Genebra.
Esta foi a primeira vez que o Comité das Nações Unidas para os Direitos das Crianças analisou abusos sexuais cometidos por padres — a avaliação dos direitos das crianças nos países é feita de três em três anos, tendo havido um período grande de tempo em que o Vaticano não enviou os seus dados com o argumento de que eventuais crimes devem ser investigados nos países onde são cometidos e não na Santa Sé.
Desta vez, além de existirem dados, surgiu também um pedido do México para que os abusos sexuais sejam considerados crimes de Estado e a exigência da suspensão do processo de canonização do Papa João Paulo II (em funções entre 1978 e 2005), anunciada pelo actual Papa Francisco e cuja cerimónia está prevista para o próximo dia 27 de Abril, juntamente com a da canonização de João XXIII (Papa entre 1962 e 1965).
Numa sessão pública em Janeiro, o Comité pressionou os delegados do Vaticano a revelarem os abusos a menores. Respondendo pela primeira vez a perguntas feitas publicamente sobre o tema, os delegados da Santa Sé negaram que o Vaticano tivesse encoberto o escândalo e frizaram que havia directivas muito claras para proteger as crianças de padres pedófilos.
"O Vaticano rompeu com a Convenção dos Direitos das Crianças", acusou a porta-voz do Comité, voltando a sublinhar que a Santa Sé preferiu adoptar uma política — o "esconder dos criems — que perpetuaram os abusos.
Um dos casos citados é das lavandarias das Irmãs de Maria Madalena, na Irlanda, onde as raparigas eram obrigadas a fazer trabalho escravo e eram abusadas sexualmente, além de fisicamente e psicologicamente. A ONU pediu a abertura de uma investigação interna a esta instituição e a outras idênticas.
O relatório da ONU menciona outros temas relacionados com a Igreja Católica, nomeadamente as posições oficiais da Igreja de Roma quanto ao aborto e à contracepção — temas de uma velha divergência entre a ONU e o Vaticano. Sobre estes temas a Santa Sé critica a "tentativa de ingerência nos ensinamentos da Igreja sobre dignidade da pessoa e o exercício da liberdade religiosa".