Editorial: uma estratégia para a colecção Miró

Na ampliação do Museu do Chiado que se anuncia pode estar uma solução para a colecção Miró.

Quando o Museu do Chiado ficar completo, com as suas obras de ampliação, parte dos 3300 metros quadrados que ganhará poderiam ser usados para expor tais obras. Imaginemos as escadarias do Governo Civil a darem entrada para um espaço onde esta magnífica colecção, pelo que podemos ver pelo catálogo da Christie’s, encontraria finalmente a sua vocação em Portugal: dar ao Museu do Chiado, que durante anos esteve “escondido” com a sua entrada enviesada na rua Serpa Pinto, um complemento que o tornaria um destino obrigatório dos portugueses e turistas que procuram o centro de Lisboa como espaço de cultura e lazer.

Se esta era a mais importante colecção do pintor catalão nas mãos de privados, passando para o Estado após a privatização do BPN, ela pode ser perfeita para a afirmação internacional do Museu do Chiado como Museu Nacional de Arte Contemporânea. Não se trata de fazer um novo museu, mas sim de garantir o crescimento a prazo do museu actual, dando-lhe uma dimensão que até aqui nunca teve — e que agora, por paradoxal que seja, lhe é proporcionada por um secretário de Estado que tão mal geriu o dossier Miró.

Se em leilão as 85 obras poderiam valer, para tapar parte do buraco do BPN que é pago pelos contribuintes, algo como 36 milhões de euros, nada garante que, a prazo, ficando em Portugal, elas não venham a render bastante mais. Impunha-se tal estudo antes de se avançar para a apressada venda, estratégia que o Governo parece preferir, trocando por dinheiro valores que nenhum dinheiro pagará. Se daqui em diante todos agirem com o bom senso demonstrado pela Christie’s talvez o caso Miró não venha a envergonhar-nos tanto.

 
 

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