Síria, um fracasso iminente

E a verdadeira pergunta a fazer já não é o que se pode esperar desta conferência, mas sim qual a outra sede onde a crise síria poderá estar a ser resolvida. As coisas ficaram mais confusas depois de o secretário-geral da ONU ter convidado ontem o Irão a participar no encontro, afirmando que Teerão respeitava a agenda da conferência anterior, Genebra I, que é a transição de poder na Síria. O Irão aceitou o convite, mas disse que não aceitava esse pressuposto, deixando Ban Ki-moon numa posição delicada. Instado pelos EUA a retirar o convite, com a oposição síria secular a ameaçar retirar-se, Ban Ki-moon acabou por, ao fim da noite de ontem, “desconvidar” o Irão.

O mais grave é que, enquanto se configura este novo impasse diplomático, Rússia, Irão e Síria parecem estar a desenvolver uma estratégia própria, deixando os EUA à margem. É preciso não esquecer que o processo negocial sírio corre em paralelo à implementação dos acordos sobre o programa nuclear iraniano. Um entendimento entre russos e americanos tornou possíveis os dois processos. Mas os riscos de existir uma estratégia que anulasse os EUA nunca desapareceram.

Ora é longe de Genebra que as coisas parecem estar a acontecer. Assad diz que poderá recandidatar-se nas eleições de Junho, Moscovo está a apoiar militarmente a Síria e a oposição armada está cada vez mais dividida entre os combatentes laicos e os jihadistas. A América deixou o terreno livre e a Rússia parece estar a transformar o Médio Oriente no seu próprio tabuleiro de xadrez. A mudança de regime na Síria é cada vez mais uma miragem enquanto o “arco xiita”, que liga Damasco, Bagdad e Teerão, ganhou vantagem no conflito regional contra os sunitas, liderados pela Arábia Saudita. E o que parecia estar a ser um triunfo da diplomacia americana pode vir a revelar-se um fiasco.   
 
 
 
 
 
 

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